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Sexualização no esporte

Não queremos ficar sexys, só queremos praticar um esporte em paz.

Por Ana Horta

Esse texto surgiu como um post no meu Instagram pessoal, mas decidi ampliá-lo aqui depois que as ginastas alemãs representaram tudo o que eu penso sobre a sexualização do esporte, nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Na ginástica artística feminina, as atletas normalmente usavam um collant mega cavado na virilha e eu fico imaginando o quanto deve ser desconfortável isso. Agora, vocês já viram os trajes masculinos usados neste mesmo esporte? São calça e shorts bem larguinhos, mega confortáveis que eu, sinceramente, queria para mim mesma treinar.

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Foto: Reprodução
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É importante dizer que o uso de calça para as meninas não é proibido no esporte e está, inclusive, previsto no regulamento da Federação Internacional de Ginástica (FIG), mas – habitualmente– eram apenas usados pelas garotas que, por motivos religiosos, não podiam utilizar collants cavados na virilha.

Por isso o posicionamento da equipe alemã de não o usar é tão significativo para todas nós, mulheres, ainda mais que elas quiseram frisar bem que essa seria uma forma delas se manifestarem sobre a “sexualização de atletas na ginástica”.

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É claro que os trajes utilizados em substituição ao collant estão longe de ser tão confortáveis quanto os dos meninos, mas é claro que é um grande começo para a mudança de algo que sempre me incomodou. Se você é mulher e está lendo este texto, você vai entender muito bem o que eu quero dizer.

Em nome da sexualização do corpo feminino, nós somos obrigadas o comprar blusas e calças extremamente desconfortáveis, apertas e feitas (na sua maioria) com um material que não deixa a pele da mulher respirar.

Com isso, quando você chega em casa, depois de horas malhando e, portanto, suada, você sofre horrores para tirar aquela roupa que gruda corpo pior do que cola Super Bonder. Além disso, a pxxxa do negócio faz a calcinha entrar na bunda e você tem que passar metade do tempo da malhação tirando ela e ainda pode ser pior, se o short é um pouco mais curto, ele fica subindo e se você caminha ou corre aí é uma luta até o fim do processo.

Ou seja, até para fazer um esporte, a mulher sofre mais. Gostaria de salientar que deve haver mulheres que gostem disso – e não estou julgando – mas eu queria ter a opção, que os homens têm, de usar roupas mais largas e confortáveis para treinar. Será que é pedir demais?

Final de semana passada, fui comprar roupas de ginásticas, porque eu estou me recusando a usar calças apertadas. Custei a achar. Até que vi uma calça, larguinha, na vitrine na Track & Field e pensei: vou ter que comprar várias. Perguntei ao vendedor sobre ela e ele disse que se tratava de uma calça de Yoga. Eu pensei: pode ser calça de qualquer coisa, o importante é ser confortável. Por todos os motivos já descritos acima, eu queria comprar várias, porém não consegui e sabe por quê? Porque não tinha. As mulheres sedentas pelo conforto já haviam comprado todas do estoque. Sendo assim, por que diabos não fazem mais calças assim?

Acredito que a resposta a essa questão está no machismo. Na ideia de que mulher vai para academia arrumar homem ou que as mulheres devem ser motivo de contemplação para homens e que, por isso, as roupas devem ser sexys. Mas a única coisa que quero e, acredito, a maioria das mulheres querem também é malhar com conforto e paz. Por tudo isso, obrigada ginastas da Alemanha, vocês nos representam muito.

Foto: Reprodução

 

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Ana Horta

Jornalista especializada em arquitetura e decoração e pós-graduada em MKT. Há 12 anos é proprietária da Mão Dupla Comunicação, única agência em Minas especializada em arquitetura,decoração, construção civil e paisagismo. É também uma das idealizadoras do Décor Solidário, projeto social, sem fins lucrativos, que visa revitalizar instituições carentes por meio da decoração.

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