Cultura
manifestação Arte feita por Fênix. Foto: Reprodução/ Instagram @fenixartivista

Manifestação artística

A história do grafite, manifestação feita através da arte é uma das bases da cultura do hip hop.

Por Bárbara Watanabe

Por +Gama

Nos últimos textos abordando o universo do hip hop, falamos sobre a história do rap (clique aqui) e também sobre o cenário desse estilo musical na cidade de Belo Horizonte (clique aqui para conferir). Encerrando a série, hoje vamos falar um pouco sobre o grafitismo, manifestação que se expressa através da arte e que popularizou no Brasil.

História

Os registros mostram que o grafite começou a ser conhecido na década de 1970, mas há evidências de que essa arte é muito mais antiga do que se imagina. A história do grafite é ancestral e é possível localizá-la nas paredes de cavernas nos tempos da Pré-História. Já na civilização egípcia, a arte tinha forte conexão ligada a vida religiosa.

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Grafites egípcios. – Foto: Divulgação

O grafitismo também foi comum no Império Romano e assim como hoje, inspirava fortes debates entre a população. Neles, a crítica aos políticos ou o registro dos fatos da civilização, faziam parte das frases, expressões e desenhos. Era considerado a principal forma de expressão da plebe e os grafites e pichações eram uma marca das grandes cidades do império.

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Gravura (1854-90) dos irmãos Fausto e Felice Niccollini da Rua Templo de Júpiter Pompeia, Itália.- Foto: Reprodução

Já na idade contemporânea, o grafite se populariza no final nos anos de 1960 e começo de 1970 em Nova York (EUA). Foi quando os jovens começaram a deixar marcas nas paredes da cidade e, ao longo dos anos, a técnica foi evoluindo até se tornar um movimento artístico que se espalhou pelo mundo. O grafitismo é uma das bases da cultura do hip hop e se tornou uma forma de expressar a opressão que a população sofria, refletindo a realidade que acontecia nas ruas.

No Brasil

Coincidentemente, o grafite chega com o movimento de contracultura, que criticava e questionava a cultura determinante da sociedade. Esse movimento também chegou até a periferia de São Paulo, que já utilizava da arte do grafite para expressar suas opiniões e denunciar outras imposições culturais.

O grafitismo ganha mais força somente no início da década de 1980, foi quando esse tipo de manifestação artística vira polêmica e começa a ser considerado como vandalismo ou até mesmo admirado pelos urbanistas como arte. De qualquer forma, o grafite gerava emoções em que os visse. Seja de repulsa ou de afeição.

A arte de grafitar se transforma em um impactante veículo de comunicação. A linguagem das ruas grita através das paredes os incômodos de toda uma população e colabora para o surgimento de outras vozes. Desde a década de 70, os artistas brasileiros se apropriam do espaço público para transmitir mensagens de cunho social, cultural, político e, sobretudo, artístico.

Em entrevista com a grafiteira Fênix, ela diz “Foi através do graffiti e consecutivamente do movimento hip-hop, que eu tive acesso a diversos conhecimentos, como a consciência de classe e raça. Tendo em vista que o próprio movimento hip-hop/graffiti nasceu como uma forma de resistência periférica e protesto contra abusos, minha percepção de impacto, de presença, do que é levado com o discurso e através da própria arte, conectou-se desde o início com este sentido originário de resistência.”

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Arte feita por Fênix. Foto: Reprodução/ Instagram @fenixartivista

A artista já participou de edições do CURA (Circuito Urbano de Arte), festival que promove espalhar arte pelas principais ruas do país. O último evento foi em 2020, em Belo Horizonte. A artista Fênix colaborou na criação de um dos muros. “Em todas as edições que participei do CURA, vivi momentos de muito crescimento profissional e pessoal, de trocas muito valiosas. Durante estas produções, as relações com o espaço e com as pessoas que os ocupam são intensas, repletas de compartilhamentos de histórias e de vivências. Estes momentos afloram a sensibilidade das conexões que a arte urbana cria nos indivíduos que as absorvem na cidade.”

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Mural feito durante o festival do CURA em 2020 por Diego Moura, Fênix, Marcus Vinícius. Foto: Reprodução/ Cura Art

A ancestralidade é parte presente desse tipo de manifestação e busca através da tinta nas paredes, mostrar a história dos povos. A grafiteira Fênix já espalhou sua arte por toda BH, e é impossível não reconhecer seu trabalho, que possui características específicas que representam a si e sua história.  “A princípio, quando comecei a fazer grafitti, busquei a minha maior referência de ancestralidade para estampar nos muros, a indígena. Inspirada nos relatos do meu pai sobre minha avó indígena tabajara nascida no Ceará. Ao inserir as duas personas juntas, inicialmente era notável em suas faces que uma delas sempre estava com um semblante leve e sereno, enquanto a outra estampava um olhar carregado e fechado, e ambas sempre estavam juntas e/ou entrelaçadas. O intuito era/é, através das diferenças, levar a mensagem de ancestralidade, união, tolerância e equilíbrio.”

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Arte feita por Fênix. Foto: Reprodução/ Instagram @fenixartivista

“Minhas características e expressões artísticas falam acerca do que eu sou, das minhas essências, raízes, espiritualidade e princípios. Usando a minha própria história e vivências como referencial”, finaliza Fênix.

É através do grafite que a arte e a manifestação das vozes se entrelaçam. E mostram, através de pinturas e gravuras, toda a história que um povo quer expressar.

Bárbara Watanabe Oi!! Meu nome é Bárbara Sayuri Watanabe. Sou estudante de jornalismo, estagiária do Portal Gama e fotógrafa (@barbarasayurifotografia). Tenho uma paixão enorme em consumir e criar arte!
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