A Voz Delas
pobres Imagem: Reprodução

Fazem porque são pobres

“Quando esse ser certinho fala das mulheres ucranianas, ele não está falando só delas, ele está falando de TODAS as mulheres. Das pobres, como se fossem coisas de imediato…”

Por Ana Horta

Eu devo confessar que, antes dessas mensagens esdrúxulas, eu nem sabia que esse tal deputado estadual Arthur do Val, mais conhecido com um nome RIDÍCULO “Mamãe Falei”, existia, mas ele existe e muitos com eles também, por isso, esse caso é um bom motivo para não deixar mais barato “homens” como esse.

Se você é ou foi uma mulher pobre sabe que homens como esse realmente existe. Eu já passei por uma situação similar.

Aos 18 anos, antes de entrar na faculdade, eu trabalhei na antiga Casa do Whisky, que não existe mais, mas que vendia bebidas caras para uma classe bem abastada de BH.

Na época, obviamente, eu não tinha grana nenhuma. Em pouco tempo passei por vários setores da empresa desde varrendo a loja, depois embalando as compras, embalando para presentes e, por fim, o telemarketing que era na própria loja.

Um dia, saia da sala onde atendíamos os telefones e dei de um cara que comprava sozinho umas bebidas. Segui direto e fui almoçar minha marmita que trouxe de casa.

Quando voltei para trabalhar, em cima da minha mesa tinha uma caixa (superfofa, que era vendida na própria loja e que, sabia, era cara) e também um bilhete: “Adorei seu olhar e adoraria te conhecer melhor”. Fulano e o telefone.

As meninas que trabalham comigo ficaram empolgadíssimas, mas eu não. Nunca acreditei em príncipe encantado. Venho de pais separados. Com a minha mãe tendo que dar conta de 4 filhos sozinha. Não tinha essa ilusão, mas elas tinham e elas me infernizaram muito para que eu ligasse para ele.

Passados dois dias, eu liguei. Ele atendeu (meio ríspido), mas continuei: “Estou te ligando apenas para agradecer a caixinha…” ele nem me deixou terminar e disse: “olha aqui, eu só quero sexo. Você quer isso também? Se não quiser, nem precisa continuar”.

Você não pode imaginar o que eu senti quando ouvi isso. Até mesmo para mim, que não acredito em príncipe encantado, foi algo traumatizante. Sem saber o que fazer, eu apenas desliguei na cara dele e chorei, chorei muito.

Chorei principalmente por saber que ele JAMAIS iria ter o mesmo comportamento se fosse uma menina que não estivesse trabalhando, ou seja, pobre no lugar onde ele estava comprando milhares de coisas caras.

Chorei porque eu fui comprada com esses produtos, por isso, quando esse ser certinho fala das mulheres ucranianas, ele não está falando só delas, ele está falando de TODAS as mulheres. Das pobres, como se fossem coisas de imediato. Das ricas, das quais ele convive, posteriormente quando tiver um convívio maior, portanto, mulheres, não podemos aceitar isso.

Nós devemos nos indignar SIM! Não podemos mais aceitar, somente chorando, declarações como essa. Esse cara NÃO pode exercer qualquer cargo público. Se continuar, nós estaremos dando margem a que mais homens como ele se achem no direito de se aproveitar da fragilidade da situação econômica da mulher e tratá-la como objeto. Se manifeste contra esse ser. Se posicione!

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Ana Horta

Jornalista especializada em arquitetura e decoração e pós-graduada em MKT. Há 12 anos é proprietária da Mão Dupla Comunicação, única agência em Minas especializada em arquitetura,decoração, construção civil e paisagismo. É também uma das idealizadoras do Décor Solidário, projeto social, sem fins lucrativos, que visa revitalizar instituições carentes por meio da decoração.

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