Crônicas
saúde

Economia na vida real

As tristes consequências da falta de dinheiro na saúde de uma pessoa

Por Ana Horta

Insulina rápida (em média, 4 vezes ao dia), insulina lenta (1 vez ao dia), Libre (medicamento que mede glicose e que dura só 15 dias, ou seja, tenho que comprar dois no mês e – muitas vezes – o aparelho dá erro fazendo eu comprar mais ou ter o estresse de reclamar e provar que eles que estão errado e não eu), seringas, remédio para bipolaridade (3 vezes ao dia), psicóloga, psiquiatra, plano de saúde, nutricionista, fisioterapeuta (porque já operei de hérnia de disco e hoje vivo na prevenção para não sofrer com isso novamente e adivinha? Isso também será para o resto da minha vida.

Só de escrever isso tudo foi cansativo e eu já nem sei se você continua comigo neste texto. Afinal, vivemos na sociedade do positivismo tóxico. Se você começa um texto relatando algo desagradável, com certeza, não terá ibope e corre grande riscos de ser cancelado.

Mas prossigo porque essa é a minha vida, ou melhor, é isso que eu tenho de ter para me manter viva. Algo chatíssimo também, mas não se trata só disso é algo extremamente caro. Gasto, em média, 2 mil reais por mês.

E tudo o que faz com que eu viva essa realidade hoje está diretamente relacionada à outra questão econômica vivenciada lá na infância. Parece complicado? Calma! Vou explicar.

Tenho diabetes tipo 1. Desenvolvi a doença aos 18 anos, no primeiro ano da faculdade. Meu irmão, 2 anos mais velho que eu, também tem diabetes tipo 1 e, antes que você possa pensar nisso, já adianto que a diabetes tipo 1 não está envolvida com hereditariedade e sim por alguma doença mal tratada na infância que emberna no corpo ainda na infância, adolescência e jovem adulta. É por isso, por exemplo, que muitos médicos preveem que teremos um surto de diabetes daqui alguns anos devido ao Covid-19 e toda a pequena/grande destruição que ele proporcionou no organismo de quem foi infectado.

No meu caso e do meu irmão vivemos uma infância muito difícil financeiramente falando e ficar doente não era algo permito. Lembro que tossíamos na almofada para esconder da minha mãe, que não tinha um real sequer, que estávamos doentes.

Com pais separados, mãe depressiva, quatro irmãos jovens comendo arroz e feijão, abuso psicológico e, posteriormente, físico não tinha como eu ser imune a questões psicológicas que me levaram na fase adulta a depressão e logo depois o diagnóstico de bipolaridade.

É claro que as questões relatadas não resumem apenas a dinheiro, ou melhor, a falta dele, mas uma causa posso falar com certeza; a falta dele proporcionou vários estragos. Hoje novamente ele se faz presente para eu poder não só sobreviver, mas viver melhor e, graças a Deus, consigo arcar com isso, mas fico só pensando nos quase 28 milhões de brasileiros que hoje vivem abaixo da linha da pobreza e aguardo ansiosamente a eleição para ver esse cenário e todas as suas tristes consequências mudar definitivamente.

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Ana Horta

Jornalista especializada em arquitetura e decoração e pós-graduada em MKT. Há 12 anos é proprietária da Mão Dupla Comunicação, única agência em Minas especializada em arquitetura,decoração, construção civil e paisagismo. É também uma das idealizadoras do Décor Solidário, projeto social, sem fins lucrativos, que visa revitalizar instituições carentes por meio da decoração.

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