A Voz Delas
maternidade

RH na mira

Milhares de mulheres se unem no Linkedin para denunciar o preconceito dos recrutadores ao saber que as candidatas são mães.

Por Bárbara Watanabe

Por Ana Horta

É difícil acreditar que, em pleno 2021, mulheres ainda são descriminadas no mercado de trabalho por serem mães. O preconceito e a falta de compreensão marcam essa sociedade machista e estudos confirmam que, quando o assunto é maternidade, 52% das mulheres passam por algum tipo de situação ruim na organização em que trabalham.

A pesquisa “Maternidade e Mercado de trabalho”, feita pelo VAGAS.com também mostra que do total de mulheres entrevistadas -23,7%- escutam comentários desagradáveis, 19,9% sofrem demissão e 16,9% lidam com a falta de empatia das empresas.

Esse tipo de preconceito começa bem antes das mulheres serem contratadas. Ainda na entrevista de emprego, 70% das mulheres relatam ter que lidar com perguntas constrangedoras e, até mesmo, eliminatórias no processo seletivo. “Você tem filhos?” “Quem irá cuidar deles caso fiquem doentes?”, são só alguns dos questionamentos mais comuns direcionados às mulheres. Não se ouvem relatos desse tipo, quando o candidato é um homem. O fato de você ser mulher e ter a possibilidade de engravidar, já pode ser um marco excludente durante o processo.

maternidade
Foto: Reprodução/ Linkedin
maternidade
Foto: Reprodução/ Linkedin

Em entrevista com a psicóloga Bárbara Freire, ela explica como essa rejeição pode afetar as mulheres psicologicamente. “Esse tipo de situação é algo muito incômodo e doloroso. Tendemos a criar estratégias para enfrentar esses tipos de situações e uma delas é tentar encontrar os motivos da rejeição para se adaptar ao cenário. Pode ser natural a mãe descontar seu desapontamento na maternidade, por ser um período da vida que ela tem que lidar com a desconexão e falta de empatia das pessoas em relação às suas vivências e necessidades. Não é necessário amar ser mãe, mas quando o desgosto pela maternidade está associado a tantos outros fatores externos, como a rejeição no trabalho, podem ser difíceis saber lidar com a frustração nessa fase, e consequentemente, gerar impactos na criação do seu filho.”

Dentro do trabalho, as mulheres também sofrem com substituições, redução de carga horária e de salário, são excluídas ou colocadas de lado em projetos e podem até sofrer um aborto em decorrência do serviço. A pesquisa feita pelo VAGAS.com, mostra que em 80% desses casos, o chefe foi o responsável pelas situações.

“A tensão faz com que nosso cérebro fique em estado de alerta, e consequentemente, gera angústia. Esse cenário impacta na maternidade quando consideramos que o bebê se regula através da mãe. Além do mais, a mãe precisa estar em boas condições emocionais para suprir as demandas e necessidades do seu filho. Passando por um período de estresse, a sensibilidade fica alterada, desfavorecendo o vínculo de conexão e afeto entre mãe e filho.”, explica a psicóloga.

mães
Foto: Reprodução/ Linkedin

Durante a pandemia, esse tipo de situação se agravou. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica. Aplicada, o Ipea, há trinta anos, o Brasil não registrava uma participação feminina tão baixa no mercado de trabalho. Além dos empregos remunerados perdidos, o trabalho invisível aumentou e metade das brasileiras passou a cuidar de alguém durante a pandemia. As crianças ficaram em casa e a divisão nada igualitária de responsabilidade aumentou a já existente sobrecarga feminina.

Uma pesquisa feita pela Catho apontou que depois da chegada dos filhos, as mulheres deixam o mercado de trabalho cinco vezes mais do que os homens.

Para conciliar maternidade e trabalho, o suporte da empresa é essencial e indispensável às mulheres. Por isso, o setor de RH tem um papel fundamental no processo. Debater esse assunto dentro das organizações é o primeiro passo para que a relação entre a maternidade e a vida profissional das mulheres seja menos negligenciada. Em entrevista com a analista de RH, Priscila Silva de Oliveira Melk, quando questionada se a formação dos recrutadores, na maioria em administração, pode influenciar no processo, ela afirma “Isso não é sobre a formação de quem aplica o Recrutamento e Seleção, diz sobre quem somos como pessoas e como humanizamos esse processo dentro de grandes, médias e pequenas empresas.”

A estabilidade é um direito previsto para mulheres em gestação. Mesmo assim, algumas empresas demitem mulheres sem justa causa durante esse período. Nesses casos, a organização recebe uma notificação para readmitir a funcionária e, caso não seja possível, deve pagar uma indenização à mulher. Mantendo seus direitos quanto a licença-maternidade e direitos trabalhistas.

Na rede social Linkedin, há centenas de relatos de mulheres que não conseguiram seu emprego de volta após retornarem da licença maternidade. Afinal, qual o grande receio das empresas em aceitarem a funcionária que eles já conheciam antes da gravidez? A analista de RH Priscila Melk explica: “Muitas empresas buscam um candidato ideal, um candidato que esteja disponível, que faça seu trabalho da forma mais perfeita, que gere resultados. Quando colocamos essa tarefa ao lado de ser mãe, percebem que ser mãe é uma tarefa que exige o mesmo esforço, sem levar em consideração o lado profissional e a capacidade de uma mulher e principalmente de uma mãe.”

“É uma situação trágica, mas juntas podemos melhorar e evoluirmos, muitas empresas já se adaptam a isso, oferecendo um espaço de creche, horários flexíveis, home office, pensando em como tornar essa volta mais fácil, leve e tranquila para a mãe que está passando por uma grande fase. As empresas, nesse momento, devem ser apoio e não mais uma fonte de desespero e desemparo para essa mãe.”, finaliza.

*A matéria foi desenvolvida pela jornalista Ana Horta, que entrevistou as fontes, juntamente com a estudante de jornalismo Bárbara Watanabe, que contribuiu apurando as informações e escrevendo a matéria.

Bárbara Watanabe Oi!! Meu nome é Bárbara Sayuri Watanabe. Sou estudante de jornalismo, estagiária do Portal Gama e fotógrafa (@barbarasayurifotografia). Tenho uma paixão enorme em consumir e criar arte!
Foto

Ana Horta

Jornalista especializada em arquitetura e decoração e pós-graduada em MKT. Há 12 anos é proprietária da Mão Dupla Comunicação, única agência em Minas especializada em arquitetura,decoração, construção civil e paisagismo. É também uma das idealizadoras do Décor Solidário, projeto social, sem fins lucrativos, que visa revitalizar instituições carentes por meio da decoração.

COMENTÁRIOS

OUTROS POSTS DO MESMO AUTOR

COLUNISTAS