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linguagem Foto: Divulgação

Marketing e inclusão

Para dar ínicio a nossa série de textos sobre linguagem neutra, a jornalista Ana Horta vai comentar sobre a visão do assunto pelo viés do marketing.

Por Bárbara Watanabe

Por Ana Horta

Nos dias atuais, a discussão sobre a linguagem neutra tem chamado muita atenção de professores e estudiosos da língua portuguesa. O uso vêm sido popularizado na intenção de incluir, no discurso, pessoas trans não-binárias, intersexo e pessoas que não se identificam com o gênero feminino ou masculino.

O objetivo de uma linguagem neutra consiste em “evitar a escolha de termos suscetíveis de serem interpretados como tendenciosos, discriminatórios ou pejorativos ao implicarem que um sexo ou um gênero social constitui a norma”, segundo o Guia de Comunicação Inclusiva, lançado em 2018.

O uso desse tipo de linguagem vem provocando novas mudanças e surge para confrontar as determinações da língua portuguesa que não são representativas a toda população. A linguagem inclusiva ainda não é norma, mas vem ganhando força pelas mídias sociais e, até mesmo, em campanhas com fins publicitários.

Na intenção de conhecer mais sobre esse mundo da linguagem neutra, o Portal Gama vai lançar uma série de textos, abordando esse assunto. Nas próximas semanas, vamos expor o viés da linguagem e da legislação, a forma como afeta pessoas LGBTQIA+ e como a academia transliterária aborda a linguagem inclusiva.  

Para dar início a essa série, a jornalista Ana Horta vai explicar como a linguagem neutra tem impactado no marketing de empresas e produtos.

Marketing de Gênero 

Antes de entrar no tema principal do texto é necessário fazer uma importante e longa introdução do que é marketing, porque existe um grande preconceito sobre isso, muito provocado pelos próprios colegas de imprensa.

Tudo começou nas eleições de 1989, quando os jornalistas começaram a chamar de marqueteiros (que realmente é o termo usado para quem trabalha com marketing em geral) aqueles profissionais que trabalhavam nas campanhas eleitorais.

A partir disso, surgiu a distinção entre os termos marqueteiros e mercadólogos. Os dois são profissionais do MKT, porém, o primeiro é focado em política e o segundo em universos mais corporativo.

E como política é sinônimo de coisa ruim, no Brasil, a profissão de marqueteiro trouxe essa bagagem negativa consigo até os dias de hoje. Mesmo aqui, no Portal GAMA, esse preconceito persiste.

Porém, o marqueteiro é um profissional que se baseia em análise de dados para direcionar as ações do cliente no intuito de atender a uma demanda latente da população visando também, claro, ao lucro. O que, portanto, não se difere dos jornalistas que buscam dados para informar o consumidor sobre algo pré-definido pela mídia em que trabalham e que, no final das contas, visam ao lucro. E tudo bem! Nós vivemos num país capitalista não há como viver à margem disso.

E esses dados, dos quais ambos profissionais utilizam para fazer seu trabalho, vêm do comportamento do consumidor. E, como bem disse o professor Rafael Barbosa, na matéria “Revisitar e revisar“, não é que a mídia que dita um comportamento. A sociedade é quem dita e a mídia só o expande para mais pessoas.

Dito isso, estando a linguagem neutra de gênero na pauta do dia de uma parte consumidora importante, o marketing começa também a se movimentar, acolher e expandir esse conteúdo. Tal qual a imprensa. Um exemplo óbvio é a gente aqui falando sobre isso.

No ponto de vista comercial, nós já tivemos várias manifestações pipocando por aí. Da boneca da Mattel às roupas da C&A, o que vem ditado a produção são  produtos sem gênero definido.

Boneca sem gênero da Mattel. Foto: divulgação/internet

Ao ser questionado o porquê de a Marttel ter decidido fazer Barbies sem gênero definido, o MKT da empresa disse: “Pesquisas comprovaram que as crianças (ou, mais provavelmente, os pais delas) rejeitam cada vez mais os estereótipos definidos pelo gênero”. Mais uma prova de que o MKT vive em função da demanda do consumidor.

Mas é claro que, como tudo na vida, há  acertos e erros. Ainda mais sobre como comunicar essa questão que tem inúmeros pormenores. Um exemplo disso foi o Carrefour que, em uma campanha de MKT que mostrava  o posicionamento da empresa sobre a causa LGBT,  estampou, em algumas fachadas das lojas, a  seguinte frase: “Todxs merecem respeito”.

A frase apresenta um erro de linguagem neutra de gênero. O “x” não é didático e de fácil compreensão (seja para leitura e/ou fala), não é pronunciável, não altera a linguagem para não-binária e não é acessível para as plataformas de leituras para pessoas com deficiência. Sendo assim, o certo seria substituir o X pelo E. Transformando a palavra para TodEs.

Desta forma, muitos concluíram que a empresa não entende, de fato, sobre a causa e só quis usar isso para fazer “marketing” (no sentido pejorativo). Pode ser. Mas pode ser também que eles, assim como milhares de pessoas que são simpáticas à causa, não conheçam ainda todos os seus pormenores.

A grande questão é? Será que é mais inteligente acolher e ensinar a forma correta, de acordo com o que prega a causa, fazendo com que o MKT possa ajudar na propagação do conceito de forma correta ou é melhor jogar pedras, porque essas empresas só estão visando ao lucro? Fica a reflexão!

 

*Texto escrito por Ana Horta em parceria com Bárbara Watanabe

Bárbara Watanabe Oi!! Meu nome é Bárbara Sayuri Watanabe. Sou estudante de jornalismo, estagiária do Portal Gama e fotógrafa (@barbarasayurifotografia). Tenho uma paixão enorme em consumir e criar arte!

 

 

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Ana Horta

Jornalista especializada em arquitetura e decoração e pós-graduada em MKT. Há 12 anos é proprietária da Mão Dupla Comunicação, única agência em Minas especializada em arquitetura,decoração, construção civil e paisagismo. É também uma das idealizadoras do Décor Solidário, projeto social, sem fins lucrativos, que visa revitalizar instituições carentes por meio da decoração.

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