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Escolas perto do fim?

Eu duvido que Bolsonaro saiba quais são os verdadeiros desafios que os profissionais de educação enfrentam em sala de aula.

Por Michelle MKO

Em um vídeo divulgado em larga escala nas redes sociais, aparece Bolsonaro ao lado de seu filho Eduardo e de sua intérprete de Libras falando: “Eu vou implementar o ensino à distância, acabando aqui com o quadro de professores, merendeiras e outras coisas mais”. O vídeo é de 2018. Mas, vale a pena pensar: no próximo mandato, Bolsonaro pretende executar esta ideia?

No debate da Bandeirantes no último domingo, Bolsonaro, indagado sobre como fará para diminuir a defasagem escolar ocorrida no contexto da pandemia, trouxe orgulhoso a informação de que o ministro dele criou um aplicativo, um jogo que alfabetiza. Segundo ele, “o modelo Paulo Freire do Lula” não deu certo. E fala que o aplicativo alfabetiza as crianças em apenas 6 meses, enquanto no “modelo do Lula”, o percurso de alfabetização demora três anos.

Há muito o que se discutir sobre tais afirmativas de Bolsonaro. A primeira e mais evidente é que o suposto aplicativo não vai solucionar o problema de defasagem escolar. Se o déficit de aprendizagem se deu no contexto da pandemia exatamente porque uma parcela bastante significativa de alunos não têm computadores ou celulares com acesso à internet para acompanhar as aulas e as atividades, um programa que precisa de internet para funcionar só vai ampliar a desigualdade. De qualquer forma, é importante pensar que existe este desejo de transformar o ensino em um processo remoto, à distância, mediado por aplicativos e jogos e que isso, além de afetar o alcance e a aprendizagem, vai acabar com os cargos de professores, de cantineiras, de auxiliares de serviços básicos, de secretaria. Todo cuidado é pouco.

Outro ponto é que ele afirma que, o método de alfabetização de Paulo Freire que o Lula e o restante do mundo aprova e vê bons resultados, não deu certo. Em mais um de seus delírios ele, que não tem formação em Pedagogia ou outra licenciatura, classifica como falida uma metodologia de estudo que é estudada em universidades de vários países como modelo a ser alcançado. Eu duvido que Bolsonaro saiba quais são os verdadeiros desafios que os profissionais de educação enfrentam em sala de aula.

Há ainda outro componente substancial na defasagem de aprendizagem: a fome. Sim, as escolas não têm banheiros unissex, mas têm alunos com fome, cuja única alimentação do dia é a merenda que comem na escola. Os cortes de verbas na Educação impactam na qualidade das merendas e na nutrição dos estudantes. Sabe aquele dito popular de que “saco vazio não pára em pé”? Pois é, aluno com fome não consegue aprender e nem expandir suas capacidades cognitivas. A fome chegou de novo às mesas de mais de 33 milhões de brasileiros, embora Bolsonaro negue e diga que “não existe ninguém na padaria pedindo um pão na fila”.

Bolsonaro e seus ministros atacam diuturnamente as instituições de ensino. Em seu mandato fez cortes gigantescos nas verbas destinadas à Educação e segue demonizando professores e estudantes, colocando-os numa injusta posição de “inimigos”. É só lembrar da afirmativa de um de seus ministros de que as Universidades são lugar de “balbúrdia”. Ou quando Bolsonaro nega a capacidade das Universidades de produzir vacinas e de analisar os impactos da pandemia na população.

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Retomando a fala do vídeo, que é de 2018 e, associando com as afirmações ao longo do seu (des)governo e até com as do debate, não parece distante a proposta de Bolsonaro diminuir o quadro de professores e, por consequência, os demais cargos que permitem o funcionamento de uma escola, como o de cantineiras, por exemplo. Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema, que é apoiador de Bolsonaro, já afirmou várias vezes que o número de professores “pesa” a folha de pagamento do Estado, desconsiderando estudos que comprovam que há déficit no número de profissionais em relação à proporção de alunos. Mas sobre o Zema falaremos em outra oportunidade.

O trabalho de desmerecer a Educação e de criticar as instituições de ensino tem sido executado com sucesso por Bolsonaro e seus asseclas. E agora, professores? Vocês vão votar em quem quer acabar com seu cargo? Até quando os profissionais de educação vão ficar calados e aceitar os cortes de verbas e a desmoralização de toda uma categoria? E os demais profissionais que compõem o quadro de profissionais de uma escola? Estão dispostos a perderem o emprego e terem seus direitos pouco a pouco retirados? Não há tempo a perder. Não há outro caminho e outra solução do que derrotar Bolsonaro nas urnas no dia 30 e continuar lutando pela valorização profissional e pelo direito à Educação de qualidade.

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Michelle MKO

44 anos, mulher, professora, artista, chargista, projeto de escritora, pisciana , portanto sonhadora e chorona, lésbica e mãe, adoradora de gatos e detestadora de injustiças sociais.

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