Micheque Antonieta de Tróia

Há teorias históricas e sociológicas que afirmam que os fenômenos sociais são cíclicos. No Brasil, nos últimos anos, temos visto muitos retrocessos que retomam fatos de mais de um período da história. Leandro Karnal, publicou em sua conta no Instagram um fato que,  de alguma maneira, reforça esta teoria do ciclismo histórico. Karnal lembrou que em 1784-86 o escândalo do colar de presente de Maria Antonieta, esposa do rei Luís XVI, contribuiu para o desgaste do reinado. O presente dado por joalheiros de fora do reino teve a participação de um membro do Clero na intermediação. O Cardeal chegou a ser preso diante de toda Corte. O caso ficou conhecido como “affaire du collier de la reine” e desgastou a imagem de Luís XVI. Tempos depois e não somente por isso, mas também por isso, Maria Antonieta teve sua cabeça arrancada pela guilhotina.

O episódio das joias presenteadas pelo governo da Arábia Saudita a Michelle Bolsonaro, retoma em alguma medida este fato histórico. O “presente” foi dado em outubro de 2020, no ato da compra de uma refinaria de petróleo brasileira a preço de banana – cerca de 11 bilhões abaixo do valor. O “mimo” custa quase 17 milhões de reais. Diversos políticos e famosos denunciaram que o presente tem ares de propina.

Os adornos foram trazidos da Arábia Saudita em uma comitiva do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Mas, ao passarem pela alfândega, no aeroporto de Guarulhos, as joias presenteadas pelo governo saudita à então primeira-dama foram identificadas e retidas, já que, no Brasil, é obrigatória a declaração ao fisco de qualquer bem que entre no país com valor superior a U$ 1 mil. Elas não foram declaradas à Receita Federal conforme exige o trâmite legal. 

E a este episódio novos elementos foram incrementados. O suposto “presente” de Michelle Bolsonaro, foi trazido ocultado dentro de uma escultura de um cavalo na mochila do assessor do ministro, Marcos André dos Santos Soeiro. Graças ao raio x foi possível identificar o pacote suspeito no interior do objeto.

O “cavalo de Tróia” trazia em seu interior as joias de Michelle Bolsonaro. Tentaram entrar ilegalmente com elas e a este movimento se dá o nome de contrabando. As joias precisavam ser declaradas à Receita Federal e, se fossem anunciadas como presente para o Estado brasileiro, seriam liberadas. Mas, ao fazerem isso, os objetos seriam destinados ao patrimônio da União e não ao da família Bolsonaro, conforme desejavam os membros do clã bolsonarista. 

Não satisfeito com a apreensão, Bolsonaro moveu mais de um órgão institucional e em mais de um momento para tentar pegar de volta o presente, sendo a última tentativa em 29 de dezembro de 2022, três dias antes do fim do seu mandato. Utilizando um avião da FAB, o Ajudante de Ordens do Presidente da República, o primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, desembarcou em Guarulhos com a missão pessoal de reaver as joias para Bolsonaro, mas, o esforço foi em vão. As joias continuam retidas e quase foram postas a leilão, mas acabaram sendo mantidas porque podem ser utilizadas como possíveis provas criminais de sonegação de impostos. Isso sem contar o uso da máquina pública para reaver bens supostamente privados.

O “rei” já foi deposto democraticamente nas urnas e os escândalos e crimes cometidos por ele vêm surgindo um a um. Há tanta podridão sob o tapete ou sigilo e ainda há quem feche os olhos para a corrupção deste desgoverno devastador!

A passagem de Bolsonaro pela presidência foi como envolver o país em um cupinzeiro e deixar os cupins destruírem em tempo recorde a estrutura da nossa nação.

Os servidores públicos da Receita Federal agiram com ética e não se intimidaram com o assédio sofrido para a liberação das joias. Merecem o crédito por agirem conforme o esperado para o cargo que exercem, mesmo sob pressão e ameaças. Diversos Ministérios e servidores indicados por Bolsonaro tentaram reaver as joias com medidas opressivas e ilegais.

Quantas cabeças vão rolar com a descoberta dos males causados por este desastroso desgoverno de Bolsonaro? Ou a guilhotina da justiça está emperrada e enferrujada pela omissão? Sem anistia!

Michelle MKO

44 anos, mulher, professora, artista, chargista, projeto de escritora, pisciana , portanto sonhadora e chorona, lésbica e mãe, adoradora de gatos e detestadora de injustiças sociais.