Eterna Rita Lee

Os papéis amarelados pelo tempo. Registros de desenhos da minha adolescência em homenagem à Rita Lee. Cresci ouvindo minha tia Lila colocando para tocar o disco icônico dela representado no meu último desenho. Maria Mole minha tia dizia que era a música da minha irmã Vivi.

Ela chorava e eu era muito pequena para entender o bullying por trás da homenagem, e não compreendia o desconforto de ser homenageada com uma música que eu achava engraçada e apetitosa. Aos catorze anos, apaixonada que estava por uma professora minha, Maria Regina, pedi para conversar com ela no final da aula. Ela foi me ouvir e eu perguntei se ela sabia o que era estar apaixonada.

Ela sorriu e me descreveu sensações do que ela entendia como sendo estar apaixonada. E eu concordei com ela e disse que era exatamente assim que eu me sentia em relação a ela e que a música Mania de Você da Rita Lee me fazia pensar nela. Imaginem o susto dela! Claro que ela saiu pela tangente e que eu saí dali tendo minha paixão desconstruída pelo discurso dela de que eu estava era confusa sobre gostar de mulheres. Enfim… essa “confusão” perdura até hoje porque continuo me apaixonando por mulheres.

Rita Lee também esteve na minha fase de descoberta da Elis. Saber da relação de amizade das duas, assistir após garimpagem em fitotecas da Rede Minas – em tempos onde não existia internet vídeos das duas cantando Doce Pimenta me deixava muito feliz. Rita Lee é assim. Uma marca vermelha de uma paixão divertida na minha memória musical, vermelha como seus cabelos, divertida como meu lado melancólico poucas vezes se encontra. Valeu, Rita Lee Jones. 

Michelle MKO

44 anos, mulher, professora, artista, chargista, projeto de escritora, pisciana , portanto sonhadora e chorona, lésbica e mãe, adoradora de gatos e detestadora de injustiças sociais.