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Consumidor midiático

Tênis e roupas virtuais. Nova tendência de consumo é o reflexo da sociedade mediatizada

Por Ana Horta

Recentemente, a Gucci lançou modelos de tênis virtuais que, particularmente, achei horrorosos, mas o tema proposto para este do texto não é esse então vamos prosseguir.

O mais, digamos, interessante desses tênis é que eles só podem ser usados como filtro na internet. Por meio de um aplicativo, a pessoa consegue ver como fica no pé e usá-los no meio digital. Qualquer pessoa que tenha R$ 65,00 pode adquiri-lo.

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Tênis virtual Gucci. – Foto: Reprodução

Mas não é só tênis que aderiu ao modelo virtual, algumas marcas de roupas estão criando peças somente para uso na internet, só para você tirar fotos e postar com elas.

Algumas influencers (claro, sempre elas) já aderiram à tendência que pode custar aos bolsos de quem a adere até mil reais.

Se você, assim como eu não é da geração Z ou Alfa, e está se perguntando que pxxxa é essa, calma que eu fui procurar saber para nós. Conversei com o professor de comunicação Rafael Barbosa Fialho que explicou: ” Vivemos em uma sociedade mediatizada. Uma sociedade que cada vez mais está sendo pautada pela estrutura e lógica da mídia. Nossas práticas são alteradas, estruturadas como se fossem um ritual midiático, por isso que, quando fazemos um jantar, colocamos tudo direitinho (pratos, talheres, taças) para bater uma foto e postar no Instagram, ou seja, a mídia social alterou a forma como lidamos com o mundo”, diz.

Pela exposição do professor, a explicação racional/ lógica do consumo (comprar um tênis para andar ou correr) perde completamente sua razão de existir e as características irracionais/emocionais se tornam a protagonista da compra, mas o será que impulsiona esse tipo de comportamento dos consumidores?

Segundo a psicóloga Bárbara Freire, por muito tempo, nós aprendemos a não demonstrar nossas vulnerabilidades, pois, além de serem entendidas como fraquezas, também foram consequências de punição e para se livrar disso, a criação de um personagem perfeito e elementos que possam ajudar a criar isso, são importantes.

“Se na nossa vida pessoal já temos dificuldades de expor nossa totalidade com medo da reação do outro, nas redes sociais, ao perceber que a cultura do cancelamento não perdoa nem mesmo um erro ou uma pequena parte sombria do nosso eu, fica difícil acreditar que poderíamos ser amparados também. Crescemos já nos privando, nos punindo, nos depreciando, nos exigindo e criticando a nós mesmos. Acaba que tratamos o outro como sabemos nos tratar: quando falhamos, nos envergonhamos, nos sentimos incapazes, fracos, sujos. Escondemos nossos erros, ou paramos de tentar acertar. Às vezes, ficamos obsessivos na busca por nunca mais se deparar com a falha, que pode ser não se vestir da maneira como a moda dita. E se não nos permitimos “errar”, se não conseguimos olhar para os nossos limites, nos amparar, nos acolher… Também não conseguimos fazer isso pelo outro podendo deixar o ambiente virtual, inclusive, tóxico para algumas pessoas”, explica a psicóloga.

Esse medo de errar é um dos combustíveis para esse novo tipo de comportamento do consumidor. No caso dos produtos virtuais, pelo menos, o meio ambiente agradece. Afinal, a moda, além de Bolsonaro, é um dos grandes vilões da natureza.

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Ana Horta

Jornalista especializada em arquitetura e decoração e pós-graduada em MKT. Há 12 anos é proprietária da Mão Dupla Comunicação, única agência em Minas especializada em arquitetura,decoração, construção civil e paisagismo. É também uma das idealizadoras do Décor Solidário, projeto social, sem fins lucrativos, que visa revitalizar instituições carentes por meio da decoração.

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