Cultura
palcos Orquestra Mineira de Rock. - Foto: Victor Maciel

Volta aos palcos

Músicos da Orquestra Mineira de Rock se reúnem neste sábado para um show que marca a retomada aos palcos no Palácio das Artes.

Por Luiz Renato Barbosa

“Estamos todos vendo essa volta com muita alegria e animação, principalmente de poder voltar à Orquestra Mineira de Rock (OMR), que é o nosso xodó, o nosso trabalho pelo qual mais prezamos. Estamos muito animados e felizes”, disse Kadhu Capanema, vocalista da banda Cartoon e integrante da OMR, que estará de volta aos palcos, depois de um hiato de quase dois anos, neste sábado, dia 14 de agosto, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

O show terá um público reduzido e contará com todos os cuidados de prevenção tanto para o público quanto para a equipe que irá trabalhar no dia da apresentação. “A capacidade do teatro será reduzida pela metade para manter o distanciamento e todos os envolvidos na produção do show serão testados antes do espetáculo”, explicou Khadu.

Orquestra Mineira de Rock

A OMR é um projeto que reúne três bandas belo-horizontinas – Calix, Cartoon e Somba – no qual treze músicos sobem ao palco e se dividem entre quatro guitarras, três baixos, dois teclados, duas baterias, sopor, bandolim, violões, percussão e um coro de dez vozes, em muitos momentos de forma simultânea, fazendo um verdadeiro caldeirão sonoro do mais puro rock and roll.

Khadhu conversou com o Portal Gama e contou sobre este período fora dos palcos, falou sobre os projetos que foram interrompidos e outros que surgiram durante o isolamento, além da expectativa de voltar a se apresentar ao vivo depois de tanto tempo. Confira.

Portal Gama – Antes da pandemia, como estava a agenda de shows?

Khadhu Capanema – A OMR vinha numa crescente de shows. Desde que voltamos com esse projeto, a gente começou a fazer eventos aqui em Belo Horizonte, depois começamos a expandir e, no ano de 2020, seria o ano da virada para a gente, pois iniciamos o ano com uma série de apresentações marcadas para o ano todo. Já tinha show agendado para vários estados. Inclusive, uma sequência de três shows no Palácio das Artes, que aconteceriam em três dias seguidos, nos quais iríamos apresentar os três espetáculos que a OMR tem: Beatles, Brasil e Clássicos. Isso ainda vamos fazer, provavelmente em fevereiro do ano que vem.

Então, antes da pandemia, a gente estava num pique muito grande, a gente estava com uma agenda muito boa de shows, e foi muito ruim ver as apresentações, uma a uma, sendo canceladas. Para nós, foi algo muito forte, pois já estávamos nos preparando para um ano de muito crescimento, de muitos shows, e foi cortado de repente.

PG – Como foi encarar essa nova realidade?

KC – A princípio, a gente achava que a pandemia seria algo menos duradouro, que seria apenas durante alguns meses. Ninguém tinha a ideia do que estávamos começando a enfrentar. Pra gente foi bem triste o fato dos shows terem sido cortados justamente quando estávamos com muita coisa a caminho. Não só os shows, mas a gente tinha, e tem ainda, um filme onde fizemos o registro da montagem do show Brasil, fizemos também um documentário de longa-metragem maravilhoso contando a história da OMR, e esse documentário iria ser lançado junto com uma turnê, então foi bem estranho ver isso tudo parando.

Mas nós sempre encaramos isso com um revés momentâneo. Imaginávamos que, em algum momento, voltaríamos, só não imaginávamos que iria demorar tanto.

palcos
Khadhu Capanema. – Foto: Divulgação

PG – Foram quase dois anos sem subir no palco, como foi esse período?

KC – Cada um dos integrantes viveu esse momento de uma maneira diferente. Alguns passaram esse momento todo sem tocar, sem fazer show, nada. Outros já tiveram bastante atividades.

Eu fui muito ativo nesse período, toquei praticamente todas as semanas desde que a pandemia começou. A partir da terceira ou quarta semana após os fechamentos dos bares, eu comecei a fazer minhas lives, no início, pelo Instagram e depois fui para o Youtube. Vários membros da OMR seguiram esse caminho também, alguns com mais frequência, outros com menos. Só os que têm alguma atividade fixa de renda é que ficaram mais parados em relação a isso.

Mas, ficar sem subir no palco é uma coisa radical pra gente. Desde os meus doze anos de idade que faço shows e nunca tinha ficado sequer um décimo disso parado. Nós vínhamos fazendo shows semanalmente, não só com a OMR, mas com vários projetos que todos temos. Há muitos anos tocamos com bastante frequência. Então, passar quase dois anos sem subir no palco é algo inédito pra gente.

Mas, por outro lado, essa mudança no mundo acarreta em muitas coisas e eu acho que o mundo precisava de alguma mudança de alguma forma, mesmo sendo uma mudança tão radical e com o aspecto tão negativo em relação à saúde pública. Mas, de alguma maneira, ajudou a sacudir um pouco o mundo e fazer todos repensarem um pouco sobre a vida como um todo, o que realmente tem valor, o que realmente achamos importante. A própria música e a arte se mostraram fundamentais para as pessoas nesse período de pandemia. Eu, com as lives, pude perceber o quanto foi importante para as pessoas terem esse momento de música, de distração, de arte na vida delas.

PG – Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou nesse período?

KC – A maior dificuldade, creio que para a maioria das pessoas também, foi a questão financeira, de trabalho mesmo, de quem ficou impedido de trabalhar, de ter sua renda aniquilada ou diminuída quase que pela metade ou mais, cada um teve uma dificuldade nesse sentido.

Junto com isso, lidar com o aspecto psicológico de viver um momento tão distinto que ninguém se preparou pra ele, de repente ser atropelado por uma realidade que não estava preparado para enfrentar.

PG – Você desenvolveu algum projeto durante a pandemia?

KC – Eu fiquei bastante ativo durante a pandemia. Num primeiro momento eu parei. Sempre dei aula de canto e violão, e essas aulas cessaram por dois meses. Depois eu voltei de forma on-line e foi muito bom perceber que a aula remota funciona muito bem. Abri a possibilidade de dar aulas para pessoas até fora do Brasil. Alunos meus que já tinham se mudado para outro país, acabaram voltando a ter aulas não presenciais.

Mantive minhas lives, fiz alguns projetos de Lei de Incentivo, a Lei Aldir Blanc também, e fui aprovado em vários editais nos quais acabava lançando vídeos, músicas inéditas, e recentemente lancei uma campanha de financiamento coletivo para a gravação do meu novo álbum solo, que já está em fase de produção.

Fiz também projetos de colaboração pela internet, gravei vídeos em casa, me mantive sempre produzindo para não deixar a peteca cair. Não dava para produzir fora de casa, mas em casa dá para produzir bastante coisa.

PG – Como é poder voltar aos palcos?

KC – Estamos todos vendo essa volta com muita alegria e animação, principalmente de poder voltar à OMR, que é o nosso xodó, o nosso trabalho pelo qual mais prezamos. Estamos muito animados e felizes.

Mas sabemos também que é um começo, uma tentativa de reabertura e que as coisas ainda tem que ser olhadas com cuidado, que temos que tomar todas as precauções possíveis para evitar que isso volte, ou piore, para a mesma maneira que foi nesses dois anos. Estamos, tanto a banda quanto o público, com uma postura de felicidade, de alegria, de esperança com essa volta, e, ao mesmo tempo, cuidadosos e receosos.

Espero que isso seja feito de uma maneira legal e que dê certo para todo mundo. Que todos possam voltar a sua normalidade e trabalhar de maneira responsável.

PG – Como foi que a OMR chegou ao consenso de que era hora de voltar aos palcos?

KC – Durante a pandemia, houve algumas propostas para realizamos lives ou para fazer algum tipo de evento, e era sempre muito difícil organizar isso, porque, no auge da pandemia, a gente se negava a fazer algum evento que não oferecesse as condições e os cuidados necessários. E como somos um grupo muito grande, acabamos não fazendo nem lives e nem nada por achar que não daria certo.

Isso mudou. Com a chegada da vacina, com a diminuição dos números, com a possibilidade, inclusive perante a própria Prefeitura de Belo Horizonte, de abrir os locais, de permitir que os shows acontecessem.

Na verdade, não foi uma decisão só nossa. Fomos convidados pelo Palácio das Artes para fazer essa reabertura. E já havia uma melhora no cenário, os números baixando, a saúde pública num estado melhor. Achamos, então, que agora sim seria possível voltar, com toda a segurança necessária.

E mais do que possível, achamos necessário voltar. Por nós, pelo público e pelo o que isso simboliza para todo mundo. Esse retorno a uma vida mais ou menos normal, uma vida na qual a gente tenha música ao vivo, na qual a gente tenha a possibilidade de fazer, pelo menos ainda de forma incipiente, as coisas que já fazíamos antes disso tudo.

PG – Quais medidas de segurança foram adotadas para essa volta?

KC – A volta vai ser da forma mais segura possível, cumprindo todos os protocolos exigidos pelas autoridades e fazendo tudo aquilo que também achamos necessário para ter cuidado com as pessoas e com a gente mesmo.

Estamos muito focados para que essa retomada seja saudável para todos nós. Afinal, todos temos família, temos pessoas queridas e não queremos oferecer nenhum risco para elas. Então, todos os protocolos da prefeitura, e do Brasil, que estão sendo exigidos, vão ser tomados. Todos usando máscara, só na hora do show mesmo que os cantores irão tirá-las. O público também tem que estar de máscara.

Nossa equipe vai estar testada para garantir que todos que estiverem trabalhando não estejam com o vírus.

Os assentos são separados para manter o distanciamento. O teatro, que tem capacidade para 1700 pessoas, vai estar só com 800, capacidade bem reduzida para que se mantenha esse distanciamento.

E os protocolos todos: álcool em gel, as coisas que já estão sendo usadas no dia a dia das pessoas e que todo mundo já se acostumou.

PG – O que vocês prepararam para esse show?

KC – Preparamos uma apresentação especial, um show que não tínhamos feito ainda que é a combinação dos nossos três espetáculos principais. Estávamos circulando, antes da pandemia, com três shows – Clássicos, onde tocamos clássicos do rock internacional e também música erudita em forma de rock: Beatles, onde fazemos uma viagem pela obra dos Beatles; e o último show nosso foi o Brasil, apenas com músicas brasileiras de todas as épocas – e vamos fazer uma combinação desses três shows.

Serão três bloquinhos com uma mostra de cada um desses shows, e acho que vai ser bem legal para mostrar para as pessoas o que a gente vinha fazendo até o momento em que paramos, então vamos dar um passeio por esses três espetáculos.

PG – Você está ansioso para reencontrar o público?

KC – Estamos todos bem ansiosos para essa volta, para reencontrar o público. Há figuras que, principalmente aqui em Belo Horizonte onde a OMR já é bem conhecida, onde conhecemos bastante o público, há pessoas que estão sempre nos shows, todo mundo ansioso para reencontrar, para rever a OMR e a gente também.

Estamos, inclusive, muito ansiosos para nos reencontrar. Fizemos o primeiro ensaio essa semana e foi muito legal. Ouvir a OMR soando mais uma vez depois de tanto tempo foi uma coisa muito prazerosa reencontrar os amigos e fazer som mais uma vez.

PG – E o que o público pode esperar do show desse sábado?

KC – Para quem tá animado para assistir à OMR, eu digo que nós estamos superanimados também. Preparamos um show superespecial, com uma energia muito boa, uma energia positiva, de renovação.

Vai ser muito legal para quem assistir ao show, poder ter a sensação de ver a gente tocando nesse momento, que é um momento muito emocionante de retorno, de esperança, e pode ter certeza que vai ser um show muito legal.

E para as pessoas que não puderem ou não se sentirem à vontade ainda para irem ao show, temos a opção de assistir on-line. Fizemos questão de ter isso já que o teatro está com a lotação muito limitada. Então, há o ingresso bem baratinho para a pessoa poder assistir ao show pela internet. Os ingressos são vendidos pelo www.eventim.com.br, e lá você pode escolher entre o ingresso presencial e o on-line. A pessoa que optar pelo modo remoto, receberá uma login e um link para poder assistir ao show em tempo real e sem sair de casa.

Essa é uma alternativa que pode ser bem interessante não só nesse momento de pandemia, mas também futuramente, abrindo a possibilidade das pessoas assistirem a uma apresentação sem necessariamente ter que ir ao evento. Esse vai ser o primeiro teste que vamos fazer neste sentido e acreditamos que irá ser muito legal.

Foto

Luiz Renato Barbosa

COMENTÁRIOS

OUTROS POSTS DO MESMO AUTOR

COLUNISTAS