Cultura
gonzaguina Rogério Silvestre em O Eterno Aprendiz – 30 Anos de Saudades. Foto: Arquivo pessoal

O “moleque” Gonzaguinha

Hoje vamos lembrar do eterno Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, o nosso “Moleque” Gonzaguinha. Poeta ácido e crítico social, Gonzaguinha cantou as belezas e as aflições de uma época que, mesmo várias décadas depois, continuam atuais e embalando os corações das novas gerações

Por Luiz Renato Barbosa

Infelizmente, Gonzaguinha nos deixou no dia 29 de abril de 1991, após sofrer um acidente de caro em Renascença, no Paraná. E no dia que completam 30 anos da morte do compositor de O Que É O Que É, o ator e cantor Rogério Silvestre fará uma única apresentação do show Gonzaguinha: O Eterno Aprendiz – 30 Anos de Saudades. No espetáculo, Rogério conta causos e canta as canções do poeta que desceu o São Carlos, pegou um sonho e partiu, pensando ser um guerreiro, com terras e gentes a conquistar.

A peça terá apenas uma apresentação, e será transmitida pela internet diretamente do Teatro Rival Refit, no Rio de Janeiro, às 19h, pela página do Youtube do teatro. “Em Janeiro, já estávamos agendados para fazer o espetáculo em Pato Branco e no Rio de Janeiro, mas devido à segunda onda da Covid-19 e a falta de vacinas, eu decidi elaborar um outro show para se adequar bem ao sistema de live. Nosso produtor João Luiz Azevedo deu o nome do show, Gonzaguinha 30 anos de saudade, e sugeriu o teatro Rival que, na minha opinião, é um dos palcos sagrados do nosso país” disse Rogério.

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Rogério Silvestre em O Eterno Aprendiz – 30 Anos de Saudades. Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Silvestre, a peça mostrará um pouco da história de um dos maiores compositores e intérpretes da música brasileira, na qual o ator dá vida ao personagem central, o próprio Gonzaguinha, passeando por momentos marcantes da vida do cantor e compositor carioca como a infância no Morro de São Carlos, os primeiros passos na carreira artística, os embates com a ditadura militar e a relação conflituosa com o pai, Luiz Gonzaga, o Gonzagão, conhecido como O Rei do Baião. “Interpretar o Gonzaguinha é uma honra para mim e um presente que a vida me deu. É tão intenso fazer esse personagem. Ao mesmo tempo que é um grande desafio, torna-se um imenso orgulho. Gonzaguinha é um dos artistas mais brilhantes que este país já teve e, às vezes, penso que fui escolhido por ele pra representá-lo”, declarou o ator.

Rogério é mineiro de Itajubá, no Sul do Estado, e sua relação com a música do homenageado começou quando ele foi, ainda muito jovem, para o Rio de Janeiro para seguir sua carreira de ator. “Eu estava sozinho, sem família e me deparei com o CD Cavaleiro Solitário e esse disco acabou sendo minha companhia. Tinha uma música, Cavaleiro Solitário, que me batia muito forte: Atravessei a rua / Atravessei a vida / Acreditei que era perto e fui lá ver. E isso foi muito intenso, porque eu pensei que as coisas seriam mais fáceis, mas foi muito difícil. Passei fome e dificuldades, mas sobrevivi”, contou o ator.

No repertório da peça, o público poderá ouvir os maiores clássico de Gonzaguinha como Explode Coração, Recado, Começaria Tudo Outra Vez, Moleque, Sangrando, O Que é o Que é?, Ponto de Interrogação, Eu Apenas Queria Que Você Soubesse, Com a Perna no Mundo, Grito de Alerta, entre muitas outras. “São 17 músicas passando pelo repertório romântico, político e os sambas que ficaram consagrados”, contou o ator.

Rogério disse o espetáculo O Eterno Aprendiz – 30 Anos de Saudades será transmitido totalmente de graça, pois é muito importante, principalmente neste momento que estamos vivendo, levar a música e as palavras de Gonzaguinha para um número cada vez maior de brasileiros espalhados pelo mundo. Porém, o ator conta com a contribuição de quem puder ajudar para poder saldar os custos de produção. “Não temos nenhum tipo de patrocínio, nem mesmo o suporte da Lei Aldir Blanc. Quem puder colaborar, as instruções para a doação estarão disponíveis na plataforma do Youtube. E quem doar R$ 50,00, ainda receberá, em sua residência, um CD, com todo o meu carinho, com as músicas apresentadas na peça”, concluiu Silvestre

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Rogério Silvestre em O Eterno Aprendiz – 30 Anos de Saudades. Foto: Arquivo pessoal

Só para reforçar, a live O Eterno Aprendiz – 30 Anos de Saudades será transmitida amanhã, dia 29 de abril, às 19h, na página do Youtube do Teatro Rival Refit.

Gonzaguinha

O cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 1945 e morreu aos 45 anos, em um acidente de carro, no sul do país. Filho de Luiz Gonzaga e da cantora e dançarina Odaléia Guedes dos Santos, ficou órfão de mãe com dois anos de idade. Foi criado pelo padrinho Henrique Xavier e pela madrinha Dina.

Gonzaguinha aprendeu cedo a fazer música no convívio com Pafúncio, membro da ala de compositores da Unidos de São Carlos. Os primeiros acordes de violão ele aprendeu com o padrinho. Do pai, recebia algum dinheiro para pagar os estudos e umas visitas esporádicas. O jovem ia crescendo e aprendendo as durezas da vida.

Com 16 anos, Gonzaguinha decidiu morar com o pai, para continuar os estudos. Na época, Helena, a esposa do Rei do Baião, não aceitou o garoto, a quem chamava “bastardo”. Sem muita opção, o menino aceitou completar os estudos como interno em um colégio. Em 1967, ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.

Suas primeiras composições surgiram quando passou a frequentar as rodas de violão na casa do psiquiatra Aluísio Porto Carreiro, pai de Ângela, com quem se casou e teve dois filhos, Daniel e Fernanda. Nessa época, ele ficou amigo de Ivan Lins, César Costa Filho, Aldir Blanc e Dominguinhos, com quem fundou o Movimento Artístico Universitário o (MAU). Logo começou a participar de Festivais Universitários de Música, e em 1968 foi o finalista com a música Pobreza por Pobreza. Em 1969 ganhou o primeiro lugar com a música Trem.

Gonzaguinha transformava as dificuldades de sua vida em uma aguda consciência política e social, que se tornaria matéria prima fundamental de suas composições. A grande mudança em sua carreira veio em fevereiro de 1973, quando se apresentou no programa de Flávio Cavalcanti, quando cantou a música Comportamento Geral.

Nessa época, vivia-se um tempo de perseguições e de censura pelo regime militar e a música Comportamento Geral foi proibida em todo o país. Gonzaguinha foi levado ao DOPS para prestar esclarecimentos. Mesmo com a perseguição e várias músicas censuradas, Gonzaguinha gravou os discos: Gonzaguinha (1974), Plano de Voo (1975) e Começaria Tudo Outra Vez (1976). Esse último disco representou uma virada em sua carreira. A música título foi um grande sucesso.

Em 1979, na voz de Maria Betânia, o compositor estourou no mercado musical com Não Dá Mais Para Segurar, que ficou conhecida como Explode Coração. Em 1981, Gonzaguinha iniciou uma turnê pelo país ao lado de Luiz Gonzaga, com o show Vida de Viajante, o que selou o reencontro dos dois.

Gonzaguinha é também pai de Amora, fruto de sua relação com Sandra Pera, do grupo As Frenéticas, pra quem compôs várias canções que se tornaram sucesso como O Preto que Satisfaz, Marcha do Povo Doido e A Felicidade Bate à Sua Porta.

Os últimos 12 anos de sua vida, Gonzaguinha viveu em Belo Horizonte, com sua terceira esposa, Louise Margarete, com quem teve a filha Mariana.

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Luiz Renato Barbosa

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