Crônicas
cheios

Telefone e alma cheios

Encarar os arquivos de memória do telefone, requer um mínimo de equilíbrio, porque a revisita pode trazer dores e frustrações também.

Por Michelle MKO

E eis que você se pega com o telefone bloqueado por falta de espaço de armazenamento. Nem as funções básicas estavam funcionando. Na verdade, já tem um tempo que aparecia a mensagem de que meu armazenamento estava quase cheio e que eu deveria apagar arquivos para liberar memórias. Estou sem computador, então tenho feito tudo no celular, fui salvando por aqui e ainda não domino bem o lance de nuvens. Mas, fazer isso, requer tempo de análise e uma concentração que eu não conseguia ter diante das demandas de atenção que já eram e têm sido muitas neste momento. Mas, na procrastinação, me perdi e o telefone travou para as funções básicas. Nem a galeria eu conseguia acessar para ver o que poderia apagar.

Os aplicativos não abriam e nem o telefone para realizar chamadas estava funcionando. Compulsoriamente, me vi tendo que acessar, por uma via que eu desconhecia na trilha digital, tais arquivos para começar minha seleção do que apagar. Eram muitos arquivos. Imagens, áudios, vídeos, aplicativos.

TELEFONE
Arte: Michelle MKO

Tanta coisa… e, neste momento de profunda dor e de intensas elaborações que tenho vivido, me vi como o meu próprio telefone. Tão cheia, tão repleta de arquivos, com a memória tão sobrecarregada, que chego a ter meu desempenho comprometido, meu funcionamento claudicante. E iniciei a exclusão de alguns arquivos. Muitos duplicados. Não sei por qual motivo. Em pastas diferentes. Aplicativos instalados que nunca usei. Prints. Vídeos. Áudios. Mas… não fiz o serviço completo. Apaguei o suficiente para conseguir desbloquear algumas das funções básicas do telefone. A seleção pesada ainda preciso fazer.

telefone
Arte: Michelle MKO

Encarar os arquivos de memória, requer um mínimo de equilíbrio, porque a revisita pode trazer dores e frustrações também. Tive algumas agora. Mas fui funcional. Em algum momento terei que mergulhar nessa memória e selecionar arquivos a serem deletados definitivamente. Até lá vou caminhando lentamente, sabendo que, a qualquer momento, a vida vai me obrigar a parar novamente ou vou me perder definitivamente.

Dar um reset também na minha vida tem sido uma solução cada vez mais inevitável.

Foto

Michelle MKO

44 anos, mulher, professora, artista, chargista, projeto de escritora, pisciana , portanto sonhadora e chorona, lésbica e mãe, adoradora de gatos e detestadora de injustiças sociais.

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