A Voz Delas

Mulheres, uni-vos!

É preciso exterminar com a cultura machista e racista que permeia a nossa sociedade e está presente também nas empresas e instituições.

Por Rúbia Meireles

O assédio, a desvalorização, a sobrecarga, o apagamento, a dupla jornada de trabalho.  É árdua a tarefa de ser mulher em uma sociedade extremamente machista. Se você que está lendo esse texto, for uma mulher, com certeza já vivenciou algumas dessas situações, as vezes todas elas juntas. E cansa. É uma batalha diária, um combate exaustivo. Não estamos em paz,  não nos deram um minuto de paz. 

A sociedade foi construída para dar protagonismo e vozes aos homens. Eles sempre estiveram nos lugares de decisão. No período colonial Brasileiro, entre os séculos XVI e XIX, a educação da mulher era realizada em casa e tudo o que elas precisavam aprender era como ser uma boa esposa, uma boa mãe e a cuidar do lar. Apenas em 1863, foi construída uma escola para mulheres, mas o currículo escolar feminino incluía aulas de afazeres doméstico, costura, português e artes manuais. Cálculos, por exemplo, era exclusivo da grade curricular masculina.  

Com o passar dos anos houve algumas  transformações e, atualmente, mulheres são maioria nas universidades como mostra pesquisa Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil.  Entretanto, as mulheres ganham, em média, 75% do que os homens recebem. “Em questões de rendimentos, vida pública e tomada de decisão, a mulher brasileira ainda se encontra em patamar inferior ao do homem, bem como no tempo dedicado a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos”. Agência Brasil. 

Em termos populacionais mulheres também são maioria, representam (51,6%) da população brasileira. Mas quando se fala em representativa em cargos públicos, o Brasil ocupa a 154ª posição dos 193 países listados em ranking do Interparlamentary Union, em percentual de mulheres nas casas legislativas. Há também, participação feminina reduzida nos cargos ministeriais – dos 23 ministérios, apenas dois são chefiados por mulheres. E a falta de representativa não se limita apenas aos órgãos públicos, mulheres são minoria em cargos de CEOS, gerencias, diretorias, tanto os cargos públicos e privados e na instituição policial.

Ainda de acordo com a pesquisa do IBGE, 62,2% dos homens ocupavam cargos gerenciais, em 2016, contra 37,8% das mulheres.  Para a administradora e idealizadora da Associação Visibilidade Feminina, Mônica Silva, é preciso quebrar essa barreira para que mulheres cheguem ao topo. “Existe um conceito chamado “telhado de vidro” que diz que as mulheres (ou outras minorias sociais) alcançam um determinado patamar hierárquico e dali em diante é difícil transpor esta barreira. Precisamos quebrar o telhado de vidro”.  Ela comenta, ainda, que uma discussão muito importante  é a divisão sexual do trabalho, em que à nós, mulheres, cabe o serviço no âmbito dos cuidados (da casa, dos filhos, dos idosos, do marido) e esse é um dos fatores que dificultam a ascensão de mulheres a posições maiores nos espaços públicos (institucionais ou corporativos). “Precisamos romper com esta lógica, iniciando esta discussão, primeiramente no âmbito privado, desnaturalizando a noção de serviço doméstico feminino e levando à uma perspectiva de igualdade das obrigações das tarefas do lar. Isso permitiria nos preparar e nos disponibilizar melhor para ocupar os cargos e espaços que são nossos por direito”.  Afirma Mônica. 

A Administradora diz, também, que é preciso romper com a cultura machista e racista que permeia a nossa sociedade e está presente também nas empresas e instituições. Existem pesquisas que comprovam que um ambiente com mais diversidade tem melhores resultados. É uma questão estratégica, uma empresa que pretende ser inovadora, ter bons resultados e ser democrática precisa ter um quadro funcional diverso. Aqui, peço licença para extrapolar a temática de gênero e incluir a pauta racial e de orientação sexual neste debate”. 

Para Mônica, a empresa que se abre para a diversidade, em todos os níveis, sobretudo nos mais estratégicos, tem mais chances de se destacar no mercado, pois os problemas são analisados a partir de pontos de vista diversos, de vivências múltiplas, o que possibilita maior riqueza das soluções apresentadas.  E nesse contexto, as mulheres, as pessoas negras e lgbtqi+ têm papel fundamental no cultivo de um ambiente organizacional mais saudável, respeitoso e podem trazer contribuições significativas para os resultados esperados.

Lugar de mulher…. É onde ela quiser!

E esse ano tem eleições municipais e é importante e estratégico que mulheres ocupem cada vez mais cargos eletivos. Isso porque, ainda de acordo com Mônica, aumentar a representatividade feminina nos espaços políticos contribui para o avanço das pautas relacionadas aos direitos da mulher e na formulação de políticas públicas voltadas para saúde, educação, assistência social, além de ser um fator que qualifica a nossa democracia.  

Ela destaca, também, a importância em se saber que estamos conquistando espaços que, historicamente, sempre nos foram negados.Polianna, nossa presidenta, sempre comenta que não há espaços vagos no poder, tampouco quem já ocupa estes espaços o cederiam de livre e espontânea vontade. A ocupação destes espaços é resultado de lutas e disputas simbólicas”. 

Para auxiliar candidaturas de mulheres a Visibilidade Feminina lançou A guia – um manual acessível para Candidatura de Mulheres, realizado em parceria com a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados. Com linguagem acessível, traz orientações técnicas e práticas para capacitar as candidatas para o pleito de 2020. A intenção da guia é qualificar a campanha eleitoral das candidatas e contribuir para que sejam competitivas, com reais chances de eleição. 

“Estamos sempre atentas às oportunidades de ação e parcerias, seja através do desenvolvimento de projetos ou de iniciativas pontuais, para que possamos levar em frente nosso propósito de empoderamento e defesa dos direitos das mulheres”.  

vamos juntas!?

     

Foto: série Coisa Mais Linda, Netflix.

 

 

 

 

 

 

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Rúbia Meireles

Jornalista de formação, é especialista em Marketing e entende tudo sobre pesquisa e comportamento do consumidor. Está sempre aprendendo alguma coisa nova.

COMENTÁRIOS

  • Rúbia Meireles

    Obrigada, Danielle. Não conhecia a música, vou escutar. :)

  • Danielle Ramos

    Seus textos me inspiram! E esse me levou a ouvir mais uma vez a música da Pit, Desconstruindo Amélia! Vale ouvir 😉

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