LGBTQI+
mulheres lésbicas e bissexuais

Meu amor não é fetiche

A fetichização e a sexualização excessiva em cima de mulheres lésbicas e bissexuais e suas consequências.

Por Bárbara Sayuri

Por +Gama

Ser mulher, no Brasil, é conviver diariamente com comentários de mal gosto e desrespeitosos. Para ir ali à padaria, já me preparo mentalmente para os possíveis assédios que posso sofrer. São assovios, encaradas indesejadas e palavras que explicitam o desrespeito com as mulheres. Sinto-me suja quando ouço algum comentário NÃO SOLICITADO sobre o meu corpo. E me sinto mal para caramba quando tenho que selecionar as roupas que vou vestir para não “chamar atenção” na rua.

As mulheres já são sexualizadas pelo simples ato de existir. Imaginem o que uma mulher lésbica/ bissexual passa por amar outra mulher? Tenho um relacionamento há quase dois anos com uma mulher, minha parceira. Já ouvi comentários sugestivos de todos os tipos só de andar de mãos dadas com ela.

“Tem lugar para mais um?”, “Quem é o homem da relação?” ou “Vocês namoram? Deem um beijo para provar”, são só algumas das frases que ouvimos diariamente. A forma como sexualizam um simples ato de carinho é aterrorizante. Vemos, a todo tempo, casais heterossexuais se abraçando, se beijando, se amando na rua. Enquanto eu, mulher que namora outra mulher, tenho que selecionar os momentos que vou beijar minha namorada por MEDO.

Não deixo de demonstrar carinho na rua, mas seleciono a hora. Sempre vai haver alguém olhando e eu não me sinto confortável com esse tipo de observação. É possível ver, no fundo dos olhos da pessoa, a malícia sobre um ato de carinho simples.

A objetificação dos nossos corpos começa quando a ideia de duas mulheres juntas acarreta uma conotação sexual. A indústria pornográfica, agora com sua facilidade de acesso e disseminação, contribui para a distribuição de discursos sobre relações lésbicas, formando um certo tipo de estrutura de pensamento quando se trata desses relacionamentos. A pornografia tem no seu papel, a capacidade de internalizar no imaginário social uma realidade que NÃO EXISTE sobre essas mulheres.

Afinal, a cena na TV de dois homens se amando causa repulsa, certo? Agora, pergunte se uma relação composta por duas mulheres causa a mesma sensação… A resposta para essa pergunta é sempre: “Aí é diferente, né?” Não há repúdio contra a representação da sexualidade lésbica, desde que ela esteja a serviço do prazer masculino. Não há repúdio quando essa ideia é exposta constantemente no mundo pornográfico.

É a partir da pornografia, que o homem começa a normalizar esse tipo de assédio em seu cotidiano e, até mesmo, reproduzi-lo. Começa fetichizando um casal de mulheres na mesa de um bar, importunando e, até mesmo, questionando se ele “pode participar”. Não. Você não pode.

E o pior de tudo, é que esse homem que objetifica mulheres lésbicas é o mesmo que comete LGBTfobia. Na verdade, o que a maior parte da sociedade não sabe é que assédio, fetichização e objetificação não são sinônimos de aceitação. Mulheres lésbicas e bissexuais sofrem dois tipos de agressão nesse caso: o preconceito por parte dos LGBTfóbicos e o assédio constante por parte de homens que nos veem como um pedaço de carne.

No Brasil, a violência contra os LGBTQ+ tem muitas faces, inclusa a violência sexual. Segundo o levantamento exclusivo da Gênero e Número, em 2017, cerca de seis mulheres lésbicas eram estupradas por dia. A expressão “estupro corretivo” vem daí. Homens que subjugam mulheres na tentativa de corrigir seus comportamentos sexuais.

O estudo também mostra que é dentro de casa que mulheres lésbicas mais são violentadas. Em 61% dos casos a agressão ocorreram na residência. Enquanto 20% aconteceram em vias públicas e 13%, em outros locais. Os homens são os principais agressores. Responsáveis por cerca de 96% das agressões sexuais. Mulheres são 1% das agressoras. Em 2% das agressões há registros de ambos os gêneros como agressores. Em 1% dos casos notificados o gênero do autor não é identificado.

mulheres lésbicas e bissexuais
Foto: Reprodução/ O Globo

Casos assim acontecem todos os dias e é dever de cada um fazer sua parte. Ter consciência do que consome nas mídias sociais e como a representação lésbica é limitada. Desejo ser devidamente respeitada e representada. Meu amor não é fetiche.

Bárbara Watanabe Oi!! Meu nome é Bárbara Sayuri Watanabe. Sou estudante de jornalismo, estagiária do Portal Gama e fotógrafa (@barbarasayurifotografia). Tenho uma paixão enorme em consumir e criar arte!

 

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