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Empreendedorismo na favela

Com mais de 14 milhões de desempregados, muitas pessoas encontram no empreendedorismo uma forma de levantar alguma renda na favela.

Por Ulisses Passos

Por +Gama

Com mais de 14 milhões de desempregados no Brasil, muitas pessoas encontram na informalidade uma forma de levantar alguma renda para o sustento de suas famílias. Podemos observar este fato nas favelas brasileiras, que por natureza já ficam distantes dos grandes centros, o que dificulta o acesso dos moradores a diversos serviços e apesar de ser um fator provocado pelas enormes diferenças sociais existentes no país, isso acaba abrindo os olhos de quem vive esta realidade e consegue observar uma oportunidade de empreender, trazendo produtos e serviços para a periferia, diminuindo assim a necessidade da comunidade ter que se deslocar para os grandes centros, fazendo com que o dinheiro circule dentro das próprias favelas.

Podemos apontar alguns tipos de empreendedores nas comunidades, como aqueles que saíram dos seus empregos nos grandes centros, seja por demissão ou por iniciativa própria para iniciar o sonho de ter o seu próprio negócio, desenvolvendo o mesmo trabalho dentro da favela, como manicures , profissionais de maquiagem e de cabelo que migram de salões para atender em um espaço próprio, seja em casa ou em um local específico para isso ou ainda atendendo somente em domicílio. Estas pessoas adquirem experiência e segurança para aumentar a renda sendo a sua própria chefia.

Outro modelo de negócio é daqueles profissionais que deixam seus empregos e iniciam empreendimentos em novas áreas, isso acontece muito no ramo de vendas de roupas, calçados e lingeries, onde as pessoas iniciam as vendas junto à família e amigos e expande o negócio gradualmente com o auxílio das redes sociais. Este tipo de negócio acaba acontecendo muito pela facilidade de se adquirir peças a baixo custo e com uma grande variedade. Apesar de muitas das vezes não iniciarem com profissionais de vendas, pode-se observar que essas pessoas têm um perfil com uma incrível capacidade de se relacionar e comunicar.

Os pequenos bares ou botecos também apresentam grande incidência nas comunidades, muitos deles de pessoas que ficaram desempregadas e resolveram abrir o negócio na própria casa, muitas das vezes uma extensão da garagem e os famosos tira-gostos são feitos na cozinha da própria casa e a bebida geralmente abaixo do preço praticado em outras regiões fora da periferia, o que mais uma vez, faz com que a comunidade não saia de sua região para consumir.

O mercado de alimentos também é bem movimentado nas favelas, além do famoso “hamburgão” e do carrinho de cachorro quente, temos a venda do chup-chup, geladinho ou sacolé, dependendo da sua região. É praticamente impossível você passar por quatro ruas nas favelas sem ter um plaquinha anunciando a venda da sobremesa gelada e este empreendimento geralmente atua como um complemento de renda, pelo baixo custo e também pelo grande números de pessoas próximas atuando com o mesmo produto.

Os empreendedores culturais também movimentam as comunidades, eles se dividem em produtores culturais e de eventos, que são aqueles profissionais que promovem as festas, bailes e shows na periferia. As favelas também são recheadas de artistas, dentre aqueles que conseguem se apresentar dentro das próprias comunidades, estão os músicos que rodam principalmente pelos bares e festas em suas respectivas regiões. No entanto para a maioria destes artistas este trabalho é apenas uma renda complementar, não conseguindo se sustentar unicamente da arte.

O empreendedorismo cultural, inclusive, faz com que ocorra um fenômeno inverso que é de trazer as pessoas do “asfalto” para dentro das favelas, pois com a realização de grandes bailes e rodas de samba, pessoas de classes não pertencentes a essas regiões acabam migrando para estes locais para vivenciar a experiência. Bons exemplos são o “Baile da Serra” que é realizado ao ar livre no Aglomerado da Serra em Belo Horizonte que reúne milhares de pessoas de diversos locais da capital, e também o “Samba do Cacá” no bairro São Paulo, tradicional samba raiz da cidade, com essa movimentação, se amplia o potencial dos empreendedores que recebem uma injeção financeira, com uma receita que vai sair do asfalto e passar a circular dentro da favela.

Apesar da grande variedade de negócios, muitos destes novos empresários acabam falindo, por terem pouca vivência comercial para manterem seus negócios ativos e em alta. Muitas vezes lhes falta oportunidade ou acesso à qualificação necessária. Quando se trata de métodos econômicos, sociais e culturais, o empreendedorismo também é visto como uma ferramenta de combate à pobreza . Nesse sentido, é extremamente necessário que sejam cada vez mais alavancadas iniciativas de apoio e formação para novos empreendedores em regiões de baixa renda. É preciso incentivar, mobilizar e sensibilizar a criação de um ambiente favorável ao empreendedorismo, instruindo profissionais que consigam se formalizar e serem sustentáveis. Ações que buscam estimular o ambiente empreendedor nas comunidades estão em constante evolução, no entanto, temos observado um progresso com uma intensidade menor do que consideramos o ideal. Tais iniciativas, públicas ou privadas, precisam buscar entender o perfil e as características dos empresários da favela, seus hábitos, cultura, anseios e valores são questões que devem ser respondidas a fim de buscar e encontrar respostas que configurem uma favela qualificada e estável economicamente.

A favela é e sempre será rica em cultura, diversidade e potencialidade, e para que o empreendedorismo se torne uma ferramenta sustentável nas comunidades, ele não pode ser tratado como um negócio para sobreviver, mas sim um negócio para se viver.

Ulisses Passos

Ulisses Passos é mineiro, Produtor Cultural, graduado em Produção de Eventos e Mestre em Estudos Culturais Contemporâneos. Atua no mercado de eventos a mais de 10 anos, sendo que nos últimos anos tem se dedicado ao setor cultural. Atualmente é produtor executivo da sambista Adriana Araújo.

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