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Canto de amor

Embora o projeto Karaokê Minas Solidário ainda esteja embrionário, ele já tem ajudado algumas pessoas, sobretudo neste contexto de pandemia, em que as dificuldades financeiras se assomaram para praticamente toda a sociedade. Muitos dos participantes levam nos encontros alimentos para serem doados.

Por Michelle MKO

Há um dito popular que diz que quem canta seus males espanta. Seguindo esta tendência, muitas pessoas seguem buscando uma alternativa para afastar os desconfortos da vida: cantar em karaokês. Moda no final dos anos 90 e nos anos 2000, o entretenimento musical virou uma febre no Brasil, ganhando espaço em bares, clubes e se tornando uma excelente oportunidade de interação social. Sua origem é no Japão, nos anos 70. Apesar de ter dado uma esfriada, em São Paulo, no bairro da Liberdade, principal reduto nipo-brasileiro, os karaokês seguem fazendo sucesso, com direito a concursos e premiações ainda hoje. Em Belo Horizonte, muitos espaços oferecem a oportunidade de clientes colocarem para fora seus cantos e encantos. Na matéria de hoje vamos passear um pouco sobre este delicioso universo musical do cenário belorizontino.

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Arte por Michelle MKO

Luciana Silva, uma aquariana das terras de Drummond, Itabira, tentou a vida em São Paulo, mas, em 1996 voltou para Minas, mais especificamente para Belo Horizonte à procura de emprego e um novo projeto de vida. Inicialmente foi ser secretária de uma promissora loja de venda de aparelhos de karaokê que estava para ser inaugurada, mas ao final de um ano e meio, o proprietário resolveu fechar o empreendimento. Luciana aproveitou a oportunidade e se tornou ela mesma proprietária do videokê. Ao longo de 25 anos ela se consolidou como uma empresária de sucesso, comercializando os aparelhos para todo o estado, ampliando as vendas para públicos particulares e comerciais. De uma família de mulheres empoderadas, Luciana nunca teve medo de desafios e conquistou muito em sua vida. O karaokê lhe trouxe muito, de bens materiais a afetos, inclusive foi em uma noite animada de karaokê que ela conheceu o pai de seu filho. Dentre as suas ricas vivências, Luciana diz que sente um enorme prazer em ver as pessoas sorrindo e se animando com as músicas e que viu pessoas crescerem e se tornarem conhecidas nacionalmente, como o cantor e compositor Ricky Vallen que trabalhou com ela e depois estourou na TV no programa do Raul Gil. Ela conta que alguns de seus antigos clientes são médicos e que eles costumam indicar para seus pacientes que cantem para afastar a tristeza e a melancolia. Atualmente, Luciana aluga aparelhos de karaokê para eventos particulares e leva a alegria a bares e restaurantes de alguns pontos de Belo Horizonte.

Arte por Michelle MKO

Jefferson Romanelli é outro apaixonado por karaokê. O analista de sistemas afirmou que sempre gostou de cantar e que, para ele, “a vida sem música não tem cor, não tem brilho”. A sua paixão por música se deu ainda na infância ouvindo Beatles com seus irmãos. Eles buscaram aprender a tocar violão e teclado a partir de revistas de cifras e garantiam a animação nas festas de família, mas, quando ele conheceu o karaokê, deixou de lado os instrumentos e passou a cantar desta forma. Suas apresentações trazem muitos clássicos de rock no repertório. Jefferson é um dos coordenadores de um grupo de Karaokê que desde agosto de 2019 reúne muitos amantes de cantoria. Atualmente o grupo tem pelo menos 99 membros que se deslocam pela capital mineira levando música e alegria pelos bares e restaurantes em festas temáticas com direito a fantasias e belas decorações. Há dois meses o grupo teve a feliz ideia de mudar o nome para Karaokê Minas Solidário e ajudar pessoas com doações de alimentos. Os membros vão aos encontros e, além de levarem canto e alegria, uma vez por mês, levam amor em forma de doações que são posteriormente distribuídas a pessoas em situações de rua.

Arte por Michelle MKO

A inspiração veio de outro membro do grupo, a libriana Lucimar de Almeida Silva. Auxiliar de enfermagem na Prefeitura de Belo Horizonte e formada em Assistência Social há três anos, ela faz trabalhos voluntários e auxilia populações de rua há mais de nove anos. Lucimar sempre percebeu que as políticas públicas não eram suficientes para atender as demandas sociais e via no terceiro setor uma necessidade de amenizar as dificuldades enfrentadas pelas populações mais periféricas. Embora o projeto Karaokê Minas Solidário ainda esteja embrionário, ele já tem ajudado algumas pessoas, sobretudo neste contexto de pandemia, em que as dificuldades financeiras se assomaram para praticamente toda a sociedade. Muitos dos participantes levam nos encontros alimentos para serem doados. O grupo ainda vai buscar apoio institucional e da sociedade para auxiliar com alimentos, música e alegria. Com dois ou três encontros por semana, o grupo se reúne em lugares diferentes da capital e expressam criatividade em suas temáticas e atuações. É o caso de um dos membros que preferiu não ter sua identidade revelada, mas que diz sentir um enorme prazer em divulgar cultura, harmonia e solidariedade entre as pessoas. De voz grave e performances animadas, este karaokeísta solidário vê neste tipo de ação social a oportunidade de superar situações traumáticas e minimizar as mazelas sociais.

Arte por Michelle MKO

É também o caso de Maria Aparecida de Abreu, a simpática Dona Cida. Aos 76 anos ela leva sua alegria aos encontros com repertório eclético que vai de Djavan ao clássico La Bamba sucesso da banda Los Lobos. As interpretações dela fazem as pessoas se levantarem das mesas e dançarem, além de a abastecerem de energia e alegria. Ela conta que o retorno gradativo aos encontros de karaokê tem sido uma oportunidade de aliviar as tensões da pandemia e promover um relaxamento pessoal. Dona Cida é figura carimbada todos os finais de semana nos encontros do grupo de karaokê.

Arte por Michelle MKO

Sobre os cuidados com os protocolos de saúde no contexto pandêmico, Luciana Silva diz que leva álcool e papel toalha para higienizar o microfone antes e depois da utilização de cada participante, além de borrifar álcool na mão deles antes de iniciarem suas apresentações. A escolha por lugares mais arejados também vem como uma alternativa para não se aglomerarem tanto.

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Arte por Michelle MKO

Há também orientações para ficarem menos pessoas nas mesas, mas, como o grupo está se tornando uma grande família, é difícil separá-los. Então, quando ouvir um grupo cantando pelas bares e restaurantes de BH, vá lá prestigiar os animados cantores amadores e aproveite para levar sua contribuição de alimentos e itens de higiene pessoal para ajudar pessoas carentes! Sigam os grupos nas redes sociais e cante também o amor! Mas não se esqueçam dos cuidados com a pandemia!

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Arte por Michelle MKO
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Michelle MKO

44 anos, mulher, professora, artista, chargista, projeto de escritora, pisciana , portanto sonhadora e chorona, lésbica e mãe, adoradora de gatos e detestadora de injustiças sociais.

COMENTÁRIOS

  • Michelle MKO

    Obrigada, Luciana! Feliz que tenha gostado da matéria!

  • Luciana Silva

    Parabéns pela belíssima reportagem sobre o KARAOKÊ. Sua sensibilidade e seu talento profissional fazem de você essa pessoa maravilhosa! Grande abraço!

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