Política
valores Arte: Michelle MKO

Valores universais

Você preza valores universais? Se sim, por que vota em Bolsonaro?

Por Ana Cristina Simões e Silva

Por +Gama

Quem me conhece sabe muito bem que nunca fui de escrever sobre política ou de me posicionar publicamente em eleições. Sempre fui uma pessoa discreta, reservada, que exerceu o direito de voto de forma contida. No entanto, dessa vez tenho de agir diferente. É minha obrigação enquanto professora titular da Universidade Federal de Minas Gerais, cientista, médica e cidadã que teve acesso à educação de excelência. Acredito que educação, saúde, preservação da natureza e respeito às pessoas sejam valores universais. E fico assustada com o fato de que o Presidente Jair Bolsonaro desrespeitou completamente todos esses valores. Como sou uma cientista, baseio-me em fatos concretos. Dessa forma, convido que reflitam. Vamos aos fatos.

Em relação à educação, nunca houve um período de tantos e sucessivos cortes às Universidades Públicas. Sucessivas restrições e bloqueios orçamentários têm ameaçado o funcionamento de diversas Universidades Públicas ao redor do país. Fechar Universidades públicas é impedir a formação de pessoas com baixa renda, comprometer a excelência do ensino superior e destruir a ciência do país, que é, em mais de 90%, realizada pelas Universidades Públicas. Ser a favor dessa política de desmonte das Universidades Públicas vai contra a educação, contra o desenvolvimento científico e contra a formação de cidadãos com pensamento crítico.

No que tange à saúde, falemos resumidamente dos fatos ocorridos na pandemia de COVID-19. Fomos sucessivamente recordistas em número de infectados e mortos pela COVID-19, houve atraso inadmissível para o início da vacinação em massa de nossa população, além de diversos pronunciamentos do Presidente Bolsonaro que foram contrários a todas as evidências científicas, como, por exemplo: “A pressa da vacina não se justifica porque você mexe com a vida das pessoas, você vai inocular algo em você”. “Se você virar um jacaré, problema de você. Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou algum homem começar a falar fino, eles não vão ter nada a ver com isso. O que é pior: mexer no sistema imunológico das pessoas. Como é que você pode obrigar alguém a tomar uma vacina que não se completou a 3ª fase ainda, que está na experimental?” Em relação à segunda afirmação do Presidente Bolsonaro, cabe ressaltar que diversos imunizantes já haviam realizado estudos de fase 3 extremamente criteriosos e muito bem desenhados do ponto de vista metodológico. Se hoje estamos numa fase de estabilidade em relação à pandemia, isso se deve à eficiência do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Sistema Único de Saúde de nosso país. Contrariando os posicionamentos e afirmações irresponsáveis e descabidas do líder da nação, o PNI agiu com a máxima eficiência no sentido de atingir  ótima cobertura vacinal da população  brasileira.

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Quanto à preservação da natureza, nunca a Amazônia foi tão desmatada sem que houvesse qualquer política pública de enfrentamento e contenção desses atos. Em recente artigo publicado em um dos periódicos científicos mais importantes do mundo, a Nature, está publicado: “A análise, divulgada no final de agosto, surge no momento em que cientistas e ambientalistas alertam para a deterioração da situação no Brasil; Grupos indígenas frequentemente se encontram em confrontos violentos com mineradores desde que Bolsonaro assumiu o cargo em 2019 – e estão exigindo mais proteção para suas terras. Embora os territórios indígenas sejam legalmente protegidos, Bolsonaro pediu abertamente a mineração que continuasse a fazer seu trabalho a despeito dos protestos e do desmatamento.”

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Arte: Michelle MKO

Em termos de respeito às pessoas, temos visto um discurso de apologia à violência, preconceito, machismo e homofobia. Se pensarmos em princípios cristãos, essa postura do atual Presidente Jair Bolsonaro é absolutamente o oposto do que Jesus pregou no evangelho, como por exemplo, amar ao próximo como a ti mesmo e não matar. Não vou nem me dar ao trabalho de copiar pronunciamentos de nosso atual presidente que são absolutamente contrários a esses mandamentos.

Finalmente, continuo me indagando: Como alguém diante de todos esses fatos ainda pode votar em Bolsonaro? Creio que nunca entenderei. Peço aos brasileiros que reflitam mais sobre essa decisão baseados em fatos e usando a racionalidade.    

Ana Cristina Simões e Silva

Ana Cristina Simões e Silva

Professora Titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do CNPq.

 

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