Cidades
Tomadas

Não encaixa

Você já parou para contar quantas vezes tentou conectar um aparelho eletrônico a uma fonte de energia e não conseguiu porque o plugue não era adequado para a tomada?

Por Denise Rodrigues Alves

Uma resolução do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro) publicada há mais de 10 anos modificou todo o cenário dos fabricantes, comerciantes e consumidores de plugues e tomadas no Brasil. Trata-se da Resolução Conmetro nº 11, de 20/12/2006, que adotou como obrigatória a norma ABNT NBR nº 14136/2002.

A mudança não foi imediata. Foi criado um calendário para substituição gradual. Porém, em julho de 2011 as alterações foram todas implementadas. E o resultado? É o que pretendemos discutir aqui.

A proposta de padronizar surgiu como mecanismo para garantir mais segurança aos usuários, evitando a exposição ao risco de choque elétrico e também a sobrecarga na instalação elétrica. “O padrão é sinônimo de segurança”, diziam os textos de divulgação do Inmetro à época.

No formato antigo (sem o poço), o usuário poderia ter contato com os pinos do plugue, também chamados de ‘parte viva da tomada’, o que poderia ocasionar choques elétricos. No formato atual (com o poço), a chance desse contato acontecer é bem reduzida. A assessoria de comunicação do Inmetro declarou, por meio de nota enviada ao Portal Gama, que “a norma teve por objetivo estabelecer melhor conectividade entre equipamentos eletroeletrônicos e as instalações elétricas dos imóveis (residencial, comercial e industrial), reduzindo a possibilidade de acidentes decorrentes de falhas de conexão, incêndio e choques elétricos, principalmente, com crianças.

Porém, há desvantagens também. O engenheiro eletricista Elias Samor explica que, nas tomadas instaladas nas cozinhas, o formato do novo padrão atrapalha a limpeza. “Quem já limpou uma cozinha sabe que de segurança não tem nada. A tomada atual é funda e acumula uma sujeira enorme ali. Se a limpeza for feita com um pano úmido, por exemplo, o risco de um choque elétrico se torna muito maior com essa tomada do que com a antiga”, alertou.

De acordo com o Inmetro, não existe um padrão internacional de plugues e tomadas e, assim, cada país desenvolveu seu próprio método. O padrão estabeleceu duas configurações, ficando assim: plugues com o diâmetro mais fino (4 mm), para aparelhos com corrente nominal de até 10 ampères (um liquidificador, por exemplo) e os plugues mais grossos (4,8 mm), para equipamentos que operam em até 20 ampères (eletrodomésticos maiores como geladeiras).

A construção de imóveis também passou pela adaptação. As novas edificações tiveram que ter, obrigatoriamente, o aterramento da rede elétrica, em virtude de disposição da Lei 11.337, de 26 de julho de 2006. E desde 2010, os bens de consumo duráveis (como lavadora de roupa, geladeira, micro-ondas, entre outros) tiveram a incorporação do condutor-terra, ficando com o plugue de três pinos.

Em resposta ao Portal Gama, o Inmetro declarou que vem promovendo ampla discussão do seu modelo regulatório, no contexto da lei de liberdade econômica. Todo o estoque de regulamentos do Instituto está sendo reavaliado. Esse processo, no entanto, foi interrompido por causa do coronavírus. A decretação da pandemia do Covid19, em março/2020, redirecionou os esforços do Instituto para a ajuda e apoio técnico-científico às autoridades no combate ao Covid19.

Procurada pelo Portal Gama, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) não se manifestou até o fechamento da matéria.

 

Elias Samor
Elias Samor é engenheiro eletricista, com pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Automação Industrial. É professor universitário há 33 anos.

 

“Padrão de tomadas” de Portal Gama por Denise Rodrigues. Lançado: 2020.

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Denise Rodrigues Alves

Sou jornalista, advogada e mestranda em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce, no leste de Minas Gerais. Sou natural de Nanuque e moro em Governador Valadares. Gosto de ler e de pesquisar.

COMENTÁRIOS

  • Denise Rodrigues Alves

    A participação do Prof. Elias foi fundamental para a construção desta matéria. Agradecemos sua contribuição nas discussões do Portal Gama!

  • Sônia Maria Simões Bianchini

    Adorei a explicação do Prof Elias. Não entendia o porquê da mudança das tomadas. Gostei de saber que toda construção a parte elétrica é feita pelo chão . Parabéns Prof Elias. Sua experiência e capacidade contribui para ocurso de engenharia elétrica ser um curso renomavel , o melhor da região leste.

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