A Voz Delas
trans

Mulher trans

O Portal Gama entrevista Bianka Gomes, primeira mulher trans a ocupar um cargo na Secretaria de Cultura.

Por Denise Rodrigues Alves

Bianka Gomes de Carvalho é natural de Governador Valadares-MG, faz aniversário no dia 03 de abril e é do signo de Áries. Em 2021, completa 29 anos de idade. Há 11 anos, é uma mulher transexual.

Em janeiro de 2021 foi nomeada para o cargo em comissão de ‘assistente’ na Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo. O cargo não é de primeiro escalão, nem carrega grande status normalmente atribuído a cargos públicos comissionadas. Ainda assim, a nomeação da Bianka foi um marco para a comunidade LGBTQI+ valadarense porque ela é primeira mulher trans a ocupar tal função.

Leia nossa entrevista com a Bianka Gomes.

Portal Gama Quais foram suas ocupações antes de chegar na Secretaria de Cultura de Valadares?

Bianka – Antes da minha transição, trabalhei como decoradora de festas infantis. Tenho um amigo gay, o Régis Bruno, que sempre me apoiou em todas as minhas decisões, que me deu a primeira oportunidade no mercado de trabalho, além de me ensinar a trabalhar. Ele é um ser humano incrível. E também me apresentou o universo LGBT. Naquela época, há 11 anos era muito difícil. Tudo tinha que ser discreto. Através dele, fui conquistando também a pessoa que eu estou me tornando hoje. Meu primeiro emprego com a carteira assinada foi numa empresa de telemarketing, o que ocorreu depois da retificação do meu nome nos registros civis.

Portal Gama – Você também tem uma atuação política na cidade. Conte-nos mais sobre o assunto.

Bianka – Há dois anos faço parte da associação LGBT que se chama União, Igualdade, Força, na qual sou diretora de Comunicação. É uma associação movida por amigos, que não tem apoio político-partidário e empresarial. Nós temos alguns militantes na cidade, mas nenhum militante que seja político. Eu considero importante unir a minha militância com a política para a gente poder implantar os nossos direitos em Governador Valadares. Em 2020, eu me candidatei à vereadora pelo partido Podemos, que me convidou para fazer parte. As lideranças locais me deram liberdade para expor minhas opiniões e sempre estavam abertos ao diálogo, a construir pontes. Se não me engano, foram quatro travestis em todo o Brasil que se candidataram pelo Podemos, que é um partido de centro e que busca fazer alianças. E esse foi meu intuito também: tanto fazer alianças como para aproveitar o marketing da campanha eleitoral e dar visibilidade às questões LGBT. Como o Podemos já tinha o nome dentro da cidade e alguns candidatos também engajados, eu entrei também por estratégia.

trans
Foto: Arquivo pessoal

Portal Gama – Como tem sido sua atuação na secretaria de cultura?

Bianka – No município, é possível fazer atividades integradas entre as secretarias. E isso é muito importante. Na minha rotina de trabalho, algumas pessoas me procuram para auxiliar em ações da área da Cultura, como eventos, por exemplo. Mas acontece que, em determinadas situações, para ajudar é preciso recorrer à área da Assistência Social. E a gente vê os departamentos trabalhando juntos. Tem sido incrível esse processo de união dos departamentos. Está sendo maravilhoso fazer essa ponte.

Portal Gama – Na sua avaliação, o que significa uma mulher trans ocupando um cargo na Secretaria de Cultura?

Bianka – Quando fazemos trabalhos externos, atuo como coordenadora de Cultura e Eventos. Tomei posse no dia 28 de janeiro de 2021, que foi a véspera do aniversário da cidade. Já comecei trabalhando com serviço externo, que foi a Live Cultural do aniversário da nossa cidade. E ter eu como a primeira mulher trans na história de Governador Valadares, sendo a primeira travesti contratada do município para mim é grandioso, é uma oportunidade incrível, é uma inclusão necessária. Toda travesti tem que ter visibilidade, empoderamento de poder trabalhar, porque nós somos capazes e dignas de trabalhar. Torço muito para que venham outras “Biankas” ocupando não só cargos na Prefeitura, mas sim em todos os espaços e meios de trabalho da nossa cidade.

A inclusão de transvestis e transgêneros no mercado de trabalho é um desafio que a sociedade ainda precisa superar. O uso do nome social foi um avanço e evita que pessoas trans passem pelo constrangimento de não ter nos documentos o nome que corresponda a sua aparência. Inclusive é obrigatório no cartão do SUS, o que permite mais acolhimento e empatia dos profissionais da saúde para esse público. Mas ainda há muito o que evoluir. A presença da Bianka pode ser considerada um primeiro passo.

“Ter a Bianka na equipe é motivo de muito orgulho! As mulheres trans podem e merecem estar em todos os espaços. A presença dela reforça algo que eu sempre acreditei, que a diversidade tem o poder de nos fazer crescer, enxergar novos horizontes. É preciso que as políticas públicas também atendam as demandas desse público, de forma a garantir a dignidade, a representatividade e a atenção que se espera de uma instituição como a Prefeitura”, pontuou o Secretário Municipal de Cultura Esporte, Lazer e Turismo, Kevin Figueiredo.

 

Foto

Denise Rodrigues Alves

Sou jornalista, advogada e mestranda em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce, no leste de Minas Gerais. Sou natural de Nanuque e moro em Governador Valadares. Gosto de ler e de pesquisar.

COMENTÁRIOS

OUTROS POSTS DO MESMO AUTOR

COLUNISTAS