Política
Mortalidade Arte: Michelle MKO

Mortalidade de crianças

Na última sexta-feira, o Presidente Jair Bolsonaro afirmou de forma irresponsável, leviana e dotada de imensa ignorância, que crianças e adolescentes não morreram por COVID-19 no Brasil.

Por Ana Cristina Simões e Silva

Por +Gama

Vamos aos fatos. Nosso grupo de pesquisa analisou a mortalidade de crianças e adolescentes que foram hospitalizados por COVID-19 no Brasil. Avaliamos os dados de uma base de dados chamada Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-GRIPE). Essa base de dados foi criada pelo Ministério da Saúde do Brasil por ocasião da epidemia de Influenza em 2009. Trata-se de uma base de dados informatizada, de domínio público e de preenchimento obrigatório por hospitais públicos e privados para informar casos hospitalizados por quadros de desconforto respiratório agudo.

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Foto: Reprodução

Ao analisarmos os dados referentes aos óbitos de crianças e adolescentes na primeira onda de COVID-19 verificamos que 886 de 11619 pacientes pediátricos morreram por causa de COVID-19 confirmado por exame de PCR no período de 16/02/2020 a 09/01/2021, totalizando um taxa de mortalidade de 7,6% de crianças e adolescentes hospitalizados por COVID-19. Esses dados foram publicados no periódico científico internacional The Lancet Child and Adolescent Health (Oliveira, Colosimo, Simões e Silva, et al. The Lancet Child e Adolescent Health 2021; 5: 559-568).

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Foto: Reprodução

Subsequentemente, analisamos a mortalidade em crianças e adolescentes durante a segunda onda de COVID-19 no Brasil, referente ao período de 01/01/2021 a 29/05/2022. Nesse período, foram hospitalizados 10.017 pacientes pediátricos com diagnóstico confirmado de COVID-19 que resultaram 896 mortes de crianças e adolescentes. Novamente a taxa de mortalidade foi de 7,7%. Esse resultado foi publicado no periódico científico internacional The Journal of Pediatrics (Oliveira, Simões e Silva, Oliveira, et al. The Journal of Pediatrics 2022; 244:178-185).

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Foto: Reprodução

A taxa de mortalidade de crianças e adolescentes no Brasil por COVID-19 é bastante elevada e muito maior do que a taxa de 1% de mortes de crianças e adolescentes verificada nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ressalta-se ainda que nos dois estudos verificamos que fatores sócio-econômicos contribuíram para maior mortalidade. Por exemplo, viver em regiões mais pobres do país, como Norte e Nordeste, aumentou em 2 vezes a chance de morrer das crianças e adolescentes. Nessas regiões houve menor acesso a vagas de tratamento intensivo e ao uso de equipamentos para ventilação mecânica das crianças e adolescentes que precisavam.

Dessa forma, a afirmativa do Presidente Jair Bolsonaro, além de totalmente incorreta, demonstra total desconhecimento dos fatos e dos dados referentes à mortalidade de crianças e adolescentes no Brasil.

Ana Cristina Simões e Silva

Ana Cristina Simões e Silva

Professora Titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do CNPq.

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