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Volta ou não volta?

A agonia dos professores de Minas Gerais de não saber se voltam ou não às aulas presenciais em 2020

Por Paloma Chierici

“Estou cansado dessa agonia: ficar rico, ficar pobre”. A frase do personagem João Grilo do “Auto da Compadecida” se aplica perfeitamente à atual realidade do professor brasileiro, mais especificamente o professor mineiro. Claro que não falo literalmente, haja vista que ficar rico não faz parte, infelizmente, dos planos dos docentes, no Brasil. A agonia que vivem, neste momento, professores e professoras mineiros é a dicotomia de voltar ou não às aulas presenciais.

Uso o termo agonia, porque é exatamente o que eu sinto agora como professora. O que sinto e o que percebo entre meus colegas de profissão. Estamos desde março trabalhando, e muito, remotamente. Trabalho para uma escola particular que, 1 semana após a quarentena ter sido declarada, implementou o ensino a distância, ao vivo, quase nos mesmo moldes e horários do presencial.

Depois desses longos meses de quarentena, começamos a perceber uma luz no fim do túnel. A primavera chegou e, com ela, uma leve melhora nos números em relação à Covid-19. Nada que nos cause uma alegria entusiasmada, nada que nos faça esquecer os mais de 130 mil mortos que essa doença causou em nosso país e, o mais importante, nada que nos faça baixar a guarda. Mas uma melhora significativa, o suficiente para que se pleiteasse a volta às aulas presenciais.

Aqui em Minas, estamos vivendo uma verdadeira queda de braço. É o Colégio Militar voltando às aulas, desacatando uma ordem judicial (só por um dia, porque tiveram que ceder), é o governo do estado autorizando as escolas a voltarem em outubro, é o prefeito de Belo Horizonte falando em recolher o alvará de funcionamento das escolas e das faculdades e é o professor sem saber o que vai acontecer. Claro, nessa onda de disse me disse, alunos e pais também compartilham essa agonia de não ter um posicionamento efetivo de nenhuma parte.

No meio disso tudo, ainda temos que ouvir que professor é vagabundo e não quer voltar a trabalhar. Meu amigo e minha amiga, estamos trabalhando é dobrado. Estamos respondendo a não sei quantos e-mails por dia, sem contar as mensagens no WhatsApp, estamos tendo, como nunca, capacitações e reuniões virtuais, estamos readaptando toda nossa didática e nos readaptando também. Estamos aprendendo, em alguns casos, a usar a tecnologia… e isso não é fácil, dá um trabalhão.

Minha agonia em relação a se volto ou não trabalhar presencialmente vem do fato de não saber quando e nem se vai acontecer. Ninguém nos dá uma certeza! A agonia também vem pela preocupação com meus colegas que pertencem ao grupo de risco ou que cuidam, em casa, de alguém desse grupo. Preocupação com meus alunos que podem levar, silenciosamente, a doença para suas casas. Quem garante que o protocolo, que nem conhecemos, é totalmente seguro? Será que estamos dispostos a pagar para ver?

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Paloma Chierici

Jornalista, professora e mãe de pet. Ama viajar e a liberdade que isso lhe proporciona. Dá aula de espanhol e português há mais de 1 década. Como jornalista, trabalhou em televisão, em empresas e em revistas.

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