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Empreender a la brasileira

Conheça a história de 4 mulheres brasileiras que ultrapassaram as barreiras dos estereótipos, da pandemia e das dificuldades vividas para recomeçar, empreendendo em um país estrangeiro.

Por Paloma Chierici

Em uma esquina de Rotterdam, cidade holandesa devastada na Segunda Guerra, existe um pedacinho do Brasil. Pedacinho esse que já identificamos pela bandeira posicionada estrategicamente na entrada do estabelecimento. E não só a bandeira serve para identificar que estamos em um ambiente brasileiro, mesmo estando a um oceano de distância, ao entrar neste espaço de beleza, de bem-estar e de moda brasileira em Rotterdam, a boa energia e as gargalhadas não deixam lugar para dúvidas. Não, esse não é um publi post, essa é uma história, que acredito que deve ser contada. Afinal, ser mulher, brasileira no exterior e empreender em tempos de Corona não é fácil. Então, senta que lá vêm a história.

O Vila Beleza Brasil é o resultado da união e do empreendimento de 4 mulheres brasileiras na Holanda. Todas elas de uma região diferente do Brasil, mas com um único objetivo: recomeçar! E foi o que fizeram, com pandemia e tudo! Cada uma percorreu um caminho diferente, tortuoso quase sempre, mas, que no final, com muita perseverança e garra, culminou neste local que, cada vez mais, vem ganhando seu espaço.

O interessante de contar aqui, além da história dessas mulheres, é que, mais que um salão e uma loja de roupas, o que já é bom, o Vila Beleza Brasil se tornou um local de encontro e de troca de experiências entre brasileiras que moram na Holanda. Mulheres que têm mesmas inseguranças que as outras, que têm as mesmas dúvidas e incertezas e que, muitas vezes, se privam de experiências por desconhecimento, aqui, nesse pedacinho de Brasil na Holanda, podem compartilhar tudo isso e se ajudarem. Assim, vão encontrando um caminho para seguir essa dura jornada de viver longe da família e do país de origem.

Eu, aproveitando minhas recentes férias na Holanda, fui conhecer um pouco da história dessas mulheres brasileiras que estão lutando por um lugarzinho ao sol em um país que só faz chover. De cara, recebi um monte de retorno positivo de amigas quando disse que ia lá. “Faço minhas unhas com Núbia, perfeita!” – me comentou uma amiga. “Mande um beijo para a Lucy, a melhor!” – pediu minha irmã. “A massagem da Maria Patrícia é divina!” – recomendou outra amiga. E muitas amigas me recomendaram as lingeries da Ana. Logo, munida de curiosidade, marquei uma tarde de prosa com elas.

Chegando ao local, logo senti a vibe tupiniquim. A alegria brasileira se deixava notar não pela música clichê de sempre, mas pelas risadas sinceras que vinham do andar de cima e do papo que parecia animadíssimo e que tinha diferentes sotaques. Fui recebida com um café delicioso e mineira que sou, achei bão dimais da conta! De repente, estava sentada numa cadeira para uma mudança no visual que não planejei, mas adorei! Minha irmã tinha razão, Lucy é a melhor. Mas como disse, esse texto não tem a pretensão de ser um publi post, eu sou jornalista, gosto de contar história e fui ouvir um pouco sobre essas mulheres que estão fazendo e acontecendo. Continue lendo e se surpreendendo, assim como eu, e mais que tudo, inspire-se! Afinal, o lugar de uma mulher é onde ela quer estar!

O papo rendeu tanto que daria para escrever um livro reportagem quase. Para poder sintetizar um pouco, conversei com a Ana Carolina Barni, empreendedora do Ana Barni Fashion+Passion from Brazil e uma dessas 4 mulheres inspiradoras.

Ana Carolina Barni, empreendedora. – Foto: Arquivo pessoal

Você é responsável no Vila Beleza Brasil pelo quê?

Anfitriã do espaço, responsável pela comunicação e identidade visual e pela loja brasileira que leva meu nome, com orgulho e com gosto, sentimentos e valores.

De onde você é do Brasil e como você veio para Holanda?

Santa Catarina, vim para Holanda há 13 anos com minha família de 3 filhos.

Como vocês, socias do Vila, se conheceram e como veio a ideia de criar um negócio juntas?

Cliente e amiga das demais profissionais, creio e admiro o trabalho de cada uma delas e me identifico como expatriada que valoriza um espaço brasileiro na Holanda, agregando excelentes serviços, atmosfera autêntica nossa, ponto de encontro e referência. A ideia da união foi mais que um projeto no papel, foi um sentimento de pertencer, de poder unir nossas forças e valores num grupo de mulheres igualmente lutadoras. A conversa inicial foi quase uma terapia coletiva com esperança, vontade de fazer algo especial e irmandade.

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Foto: Arquivo pessoal

Quais as maiores dificuldades vocês enfrentaram?

Burocracias, reformas, recomeços após um período extenso de pandemia e trabalhar anteriormente sozinha.

Como vocês superaram essas dificuldades? O “jeitinho brasileiro” foi útil?

Conversamos sempre em grupo, colocamos literalmente a mão na massa e fizemos a reforma do espaço muito nós mesmas e com familiares. Aqui não usamos o jeitinho brasileiro na Holanda regrada, mas nunca perdemos o sorriso latino, que, muitas vezes, com paciência, insistência, educação e positividade nos leva adiante

Você trabalhava com o mesmo no Brasil? Sente alguma diferença do trabalho aqui e lá? Quais?

Eu venho do mundo acadêmico e aqui me reinventei! Apaixonada pela moda brasileira e vinda do polo da lycra e renda nacional, busco trazer as lingeries e moda praia mais lindas, com ótimos preços e qualidade e exclusivo para minhas clientes. Acessórios, roupas atemporais ou justamente algo tendência, a Vila B by Ana Barni é moda brasileira com bossa, estilo e muita identidade latina.

Como é empreender em um país estrangeiro em época de pandemia?

Acreditando que ao final venceremos e também teremos feito bem a muitos em nossa volta. Pode parecer algo banal, mas a beleza, o bem-estar, a autoestima de muitas conterrâneas e expatriadas estava sofrendo e muito, temos agradecimentos diários de clientes que afirmam estar melhor depois da visita e que não imaginavam como é importante essa interação em um local tão “normal” tão “salão de bairro”, sem glamour demais, mas com atendimento bom e familiar.  Muitas clientes entram na loja e afirmam: aqui sou tamanho normal, tenho modelagem com minhas curvas e seus conselhos e dicas me lembram de como eu gosto de me vestir bem, de eu estar bonita! Isso é empreender com a alma.

Foto: Arquivo pessoal

Sofreram algum preconceito por ser mulher e brasileira por causa dos estereótipos? Se sim, quais?

Beleza é geralmente associada à mulher e principalmente latina, os estereótipos de “ah como no país de vocês” às vezes acontecem, mas hoje, com mais de 40, eu assumo ser latina e feliz assim, sorrio e consigo dialogar sem criar pré-conceitos. Por outro lado, muitas clientes de diferentes nacionalidades afirmam preferir nossos serviços por sermos mulheres brasileiras e sermos especialistas em moda e beleza, então acredito que mesmo em 2021 teremos sempre uma opinião formada de culturas e tradições diferentes, faz parte do ser humano, apenas devemos fazer o nosso melhor e prestar os serviços da melhor forma possível onde quer que seja! Todos são bem-vindos.

Vocês atendem não só brasileiras, como é o atendimento com as pessoas de outra nacionalidade?

Nosso público é extremamente eclético, com idiomas e culturas diferentes e tentamos sempre atender a todos da melhor maneira e aprendemos diariamente. Em algumas culturas, nossas clientes não dividem o espaço com homens, neste caso, atendemos separadamente e normalmente. Eu vendo biquínis para todas as nacionalidades e aconselho o que, em cada fase da vida feminina, ela poderá usar meu produto: com filhos um maiô moderno, porém confortável que tenha uma canga versátil para usar consigo e seu bebê, ou um biquíni super tendência para um dia no barco com amigos. Todas somos lindas e temos um brilho no olhar que desperta ao encontrar os produtos brasileiros com nossas estampas, cores e modelagem e principalmente, ser ouvida no momento de fazer uma escolha, atendimento personalizado.

Como funciona atualmente o negócio de vocês e quais os planos para o futuro?

Somos empresárias com nossas próprias empresas no mesmo teto, mesmo conceito. Estamos numa fase bem consolidada em relação ao que temos para oferecer e o que a comunidade realmente busca e quer, sabemos que quem nos encontra, gosta do atendimento e dos serviços e sente-se acolhido pela equipe, isso queremos sempre oferecer, tratamento com carinho para todos os clientes, ele sabe que aqui é visto como único. A pegada no cabelo já é diferente, a sugestão de uma lingerie para cada gosto e corpo, a unha bem feita de acordo com a rotina da cliente, etc. O futuro teremos mais filiais e mais profissionais e continuaremos sendo um espaço aconchegante onde todos sentem-se bem-vindos.

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Foto: Arquivo pessoal

Para finalizar, conte-nos um pouco sobre suas outras parceiras de caminhada, superação e empreendedorismo.

A Anubia é carro chefe do salão. Ela tem o estabelecimento no mesmo local em Rotterdam há 13 anos, manicure, depiladora e especialista em tratamento de queratina para cabelos afro. Ela é muito conhecida na comunidade de brasileiros na região, mas também de caboverdianos, pois frequentava a mesma igreja e a comunidade aumentou com sua clientela. Ela tem sempre palavras de ajuda, de carinho, de acolhimento para todos que frequentam o salão e geralmente é um ponto de apoio para as recém-chegadas. Aquela imagem de salão de bairro que tínhamos no Brasil, mantemos aqui. Ela trouxe sua filha Tainá para trabalhar com ela e hoje todos conhecem a dupla como manicures/ pedicures qualificadas.

A Pati Lins é massoterapeuta. Nós a chamamos de mãos de fada, ela identifica com delicadeza e profissionalismo a massagem específica necessária para cada cliente. Leque de opções são desde massagem relaxante, hot stones, drenagem linfática, para gestante até a massagem queridinha do momento o método Renata França que ela cursou em Lisboa. Veio para a Holanda com o marido por transferência de trabalho e hoje é feliz com sua profissão aqui desde 2019.

A Lucy é a mais recente integrante do grupo. Cabeleireira, colorista, expert em cortes harmonizando o look da cliente. Lucy tem renomado salão ainda operante em Natal, já trabalhou e morou em Frankfurt e, desde 2021, em Rotterdam.

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Foto: Arquivo pessoal

 

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Paloma Chierici

Jornalista, professora e mãe de pet. Ama viajar e a liberdade que isso lhe proporciona. Dá aula de espanhol e português há mais de 1 década. Como jornalista, trabalhou em televisão, em empresas e em revistas.

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