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vacina Arte por Michelle MKO

Vacina é a solução

O objetivo geral das vacinas é reduzir a contaminação e evitar o desenvolvimento de formas graves de COVID-19.

Por Ana Cristina Simões e Silva

Por +Gama

Devido à pandemia causada pela Síndrome Respiratória Aguda Grave do Coronavirus 2 (SARS-CoV-2), o mundo moderno tem enfrentado uma crise de saúde sem precedentes. Até o momento, existem 196 milhões de casos e 4,19 milhões de mortes secundárias à doença do Coronavirus 2019 (COVID-19). No Brasil, totalizamos 19,8 milhões de casos e 553 mil mortes por COVID-19.

A doença tem uma apresentação clínica muito variável, desde casos assintomáticos até quadros respiratórios agudos muito graves, tempestade inflamatória, disfunção de vários órgãos e morte. Entre os grupos com evolução mais desfavorável estão os idosos e adultos com doenças crônicas prévias, incluindo diabetes, hipertensão, obesidade, doenças cardiovasculares, renais entre outras. Em pacientes que desenvolvem formas graves da doença, ocorre diminuição da resposta de defesa do organismo, com inflamação mais acentuada.

Diante desse cenário, a comunidade científica mundial uniu forças para o desenvolvimento, em tempo recorde, de vacinas capazes de conter a evolução da pandemia. Até agora, mais de 200 vacinas candidatas estão em desenvolvimento, 60 das quais já estão passando por testes clínicos. Pelo menos sete vacinas já estão sendo usadas pelos países, na tentativa de controlar a pandemia. Na maioria dos casos, o Registro e o licenciamento dos imunizantes têm ocorrido em caráter de emergência, sendo corroborados pelos resultados preliminares dos estudos divulgados até o momento. O objetivo geral é reduzir a contaminação e evitar o desenvolvimento de formas graves de COVID-19.

Em 8 de dezembro de 2020, uma mulher britânica de 90 anos se tornou a primeira pessoa a ser vacinada contra COVID-19 no mundo. Desde então, apesar do avanço mundial na vacinação, ainda existem grandes desigualdades na distribuição das doses, com carências em vários países. Nesse cenário de poucas doses disponíveis, foi necessário adotar estratégias de priorização e direcionamento para a quantidade disponível. Países como Estados Unidos, Brasil e Reino Unido priorizam a vacinação de idosos com mais de 60 anos e profissionais que atuam na linha de frente do combate à pandemia, além de adultos com doenças crônicas prévias que predispõem ao pior desfecho da infecção. A Indonésia, por outro lado, contrariou a tendência mundial e decidiu começar a vacinar adultos de 18 a 59 anos, com o objetivo de reduzir mais rapidamente a circulação do vírus em todo o país e proteger indiretamente os grupos mais vulneráveis.

São três tipos básicos de mecanismos de ação das vacinas já em uso nos diversos países: 1- Vacina de vírus inativado como é o caso da CORONAVAC/SINOVAC. Essa vacina tem o vírus completo que é inativado pelo calor e portanto, não causa a doença. Mas, ainda assim, capaz de estimular uma resposta do nosso sistema imune, defendendo-nos contra a infecção; 2- Vacinas de vetor viral, que são vacinas nas quais um outro vírus atenuado (com menos capacidade de causar problemas) carrega parte do material genético do SARS-CoV-2. Esse vírus entra na célula das pessoas e faz com que o sistema imune reaja contra a proteína do SARS-CoV-2 que ele carrega. Isso faz com que nosso sistema de defesa se torne capaz de reagir a contatos futuros com o SARS-CoV-2. São exemplos de vacinas de vetor viral, a vacina de Oxford/Astrazeneca, a vacina Sputnik V/Gamalaya e a Janssen/Johnson & Johnson. 3- Vacinas que carregam o material genético do vírus, que é formado pelo chamado ácido ribonucleico, da sigla inglês RNA. Esse material genético estimula a formação da chamada proteína S do vírus. Para que o material genético do vírus entre dentro de nossas células, ele é incorporado em uma partícula muito pequena que, além de permitir sua entrada dentro da célula, impede sua destruição. Dentro da célula, o material genético do vírus produz a formação da proteína S que, por sua vez, estimula a resposta do nosso sistema imune contra ela. As vacinas de RNA em uso atualmente são a Pfizer/BioNTech e a Moderna.

Existem algumas variações nas características das vacinas tais como eficácia, segurança e indicação de uso em subgrupos específicos. Mas, de modo geral, os estudos têm mostrado para todas as vacinas em uso atualmente bons índices de proteção e capacidade de reduzir mortes e formas graves de COVID-19. Dessa forma, não há qualquer sentido em se escolher qual vacina tomar. O importante é ser imunizado pelas vacinas disponíveis em nosso país.

Ressalta-se ainda que o fato de já ter sido vacinado por completo não impede que a pessoa possa transmitir o vírus a outros. Mesmo que a vacina impeça a doença na pessoa ou faça com que a COVID-19 seja bem mais leve, o indivíduo vacinado ainda pode transmitir o vírus para outros. Portanto, as medidas de proteção e controle de transmissão precisam de ser mantidas, incluindo o uso de máscaras e o distanciamento social.

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Arte por Michelle MKO

O monitoramento do vírus também é essencial para detectar mutações de interesse, identificar novas variantes e permitir intervenções na população antes que o vírus que sofreu mutação se espalhe novamente. Estudos recentes têm mostrado que as vacinas disponíveis possuem eficácia apenas discretamente menor contra as novas variantes do SARS-CoV-2, como no caso da variante delta. No entanto, é importante mencionar que o aumento da transmissibilidade do vírus pode resultar em sobrecargas dos sistemas de saúde que, se colapsados, acarretam em maior mortalidade. Assim, a estrita adesão social e governamental às medidas de restrição propostas é essencial para impedir o surgimento e a disseminação das novas variantes, enquanto a vacinação segue, em ritmo lento, na maioria dos países, incluindo o Brasil. Concluindo, a vacinação em massa é a única forma viável de controle da pandemia.

Ana Cristina

Ana Cristina Simões e Silva

Professora Titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora do CNPq.

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