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Pretinha e Rodrigo voando. Foto: arquivo pessoal

Desafiando estatísticas

Você não pode ter cachorro! Com uma ideia fixa, Rodrigo ignorou o resultado do teste que fez e, hoje, compartilha momentos únicos ao lado da SRD Pretinha. Conheça a história de Pretinha e Rodrigo, uma relação entre cão e tutor que desafia estatísticas!

Por Paloma Chierici

Pretinha e Rodrigo voando. Foto: arquivo pessoal

Eis aqui um texto que gera dúvidas sobre em qual editoria colocá-lo: Pets ou Turismo. Isso porque vamos contar a história da Pretinha, uma cachorrinha mexicana sem raça definida, que já fez várias viagens, inclusive voos internacionais! A cidade de Acapulco sempre foi um dos destinos mais procurados no México, foi escolhida por John F. Kennedy e Jacqueline Bouvier Lee para a lua de mel deles na década de 50 e ficou conhecida pelos brasileiros nos episódios do Chaves. O destino paradisíaco já é conhecido pela nossa Personagem, a Pretinha. E ela não parou por aí, já conheceu outros pontos turísticos mexicanos como Campeche e até internacionais como o Brasil – Pretinha mora, hoje, na Cidade do México.

Bom, como decidimos colocar o texto na editoria de Pets, vamos deixar os detalhes dos lugares maravilhosos que Pretinha conheceu para a editoria de Turismo em uma outra matéria. Aqui, vamos focar numa história de amor, carinho e superação entre a cachorrinha Pretinha e seu Tutor, o professor universitário Rodrigo Florêncio da Silva.

Rodrigo é paulistano e foi para o México há mais de 6 anos como Leitor do Governo Brasileiro, representando a cultura brasileira e a língua portuguesa. Antes de fazer uma viagem a Cancun, decidiu que queria ter um cachorro. Chegou a fazer testes em alguns sites que tiveram um resultado contundente: você não pode ter um cachorro! Mas em uma dessas jogadas do destino, Pretinha apareceu na vida dele, mostrando que, nem sempre, aquilo que parece ser é o que realmente é.

Pretinha bem comportada. Foto: arquivo pessoal

A partir desse encontro, e alguns desencontros também, os dois se tornaram inseparáveis! Pretinha passou a acompanhar Rodrigo em suas viagens de trabalho e lazer como cão de terapia e virou a sensação dos voos com seus lacinhos vermelhos e seu colete cheio de estilo. A cumplicidade entre os dois ultrapassa a barreira das cidades e dos países que visitam. Pretinha, depois do forte terremoto que ocorreu na Cidade do México em 2017, teve o instinto de proteção aguçado e, ao ouvir qualquer alarme sísmico, já começa a procurar Rodrigo com a intenção de alertá-lo para o perigo.

A relação de Pretinha e Rodrigo que contraria todas as estatísticas dos testes feitos por ele nem sempre foi um mar de rosas. Pretinha não era fácil, chegou tocando terror! Mas nada que a persistência, a insistência, o amor e algumas horas de treinamento não pudessem resolver. O escritor brasileiro Machado de Assis diz, em um de seus livros, que é uma ideia fixa que mata o homem. Na nossa história, foi uma ideia fixa que salvou um homem e uma cachorra também.  Vamos conhecer mais e nos apaixonar pela história desses dois

Rodrigo, como você adotou a Pretinha?

É uma história bem curiosa porque eu estava indo viajar para Cancun e, um dia antes eu falei: ah eu quero um cachorro. Entrei num site desses que você faz testes se pode ter cachorro ou não e, de repente, eu vi que não poderia ter cachorro. Então, antes de viajar, fui jogar o lixo fora e foi quando vi a Pretinha que pulou em mim. Eu logo falei, que bonitinha, quero para mim. Falei de brincadeira, mas veio uma pessoa do condomínio e me disse que ela estava em adoção.  E eu disse: eu quero! Um menino me deu um saco de ração para alimentação dela, mas eu estava indo viajar e meu voo saía em duas horas. Eles disseram que não tinha problema e que ficariam com ela até que eu voltasse. Fui, me preparei para que, quando voltasse, teria a Pretinha e, de repente, quando eu volto tinham dado a Pretinha para outra pessoa. Eu fiquei muito bravo! Falaram que a família estava muito feliz com ela, que uma criança estava tão feliz com a cachorra, que nesse então se chamava Frida. Lembrei do site que havia afirmado que eu não poderia ter cachorro. Três dias depois, batem na minha porta falando que a pessoa estava com alergia por causa da Pretinha. Na verdade não foi isso, eu percebi quando ela começou a destruir as coisas que ela era bastante arteira, então não tiveram alergia, não aguentaram a cachorra mesmo. E assim foi como, indo jogar o lixo, eu conheci a Pretinha.

Por que adotou e não comprou um filhote?

Eu acho que cachorro não se compra. Para ser comprado tem que ser mercadoria. Por isso eu preferi adotar e não comprar, eu sempre adotei!

Ela é mexicana e tem um nome bem brasileiro (no diminutivo), como foi a escolha do nome? Os mexicanos têm dificuldade em pronunciá-lo?

Pretinha é mexicana e tem um nome bem brasileiro, como negrita em espanhol, justamente porque ela é toda pretinha, só tem uma manchinha branca no peito. Por isso escolhi o nome de Pretinha. Efetivamente, os mexicanos têm certa dificuldade na pronúncia por causa da língua, eles falam Pretina. Depois de umas tentativas de pronunciar o inha, acaba saindo o nome correto.

Pretinha e Rodrigo embarcando. Foto: arquivo pessoal

Como e por que ela começou a te acompanhar nas viagens?

A primeira vez ela viajou embaixo no porão do avião, mas devido ao estresse e à ansiedade que gera naturalmente, comecei fazer com ela no México uma terapia para evitar esse estresse e controlar a ansiedade. Foi quando fiquei sabendo da terapia canina, na qual seu cachorro te acompanha na terapia. Pretinha começou a me apoiar, ela foi treinada e, hoje, ela é meu cachorro de apoio emocional, assistance dog, em inglês. Hoje, ela viaja comigo como os cachorros que apoiam os deficientes visuais, como ela já foi treinada, ela entra e fica nos meus pés. Caso ela fique estressada ela me dá uma lambidinha e a gente brinca. A terapia canina é muito popular hoje em dia.

Ela sempre te acompanha ou há ocasiões que não?

Hoje ela viaja comigo quando eu vou para o Brasil ou quando vou dar alguma conferência. Eu alugo uma casa onde ela possa ficar. Ano passado, estive no Brasil, na casa da minha mãe, e ela tinha o quintal para ficar. Quando é uma viagem para fora do México, onde eu não possa ficar com ela, ou quando é uma viagem muito rápida, ela fica em hotel ou na casa de um amigo.

Quando voltei do México, trouxe três comigo, mas só podiam viajar no compartimento de carga. Como é o processo para conseguir a liberação da Pretinha na cabine?  Quantos quilos ela tem?

Ela pode viajar na cabine porque as companhias já sabem que ela é um cachorro de apoio emocional, tem que ter uma carta médica do psiquiatra ou de algum especialista com registro no Conselho de Medicina. No meu caso, a carta é da psicóloga porque eu faço terapia com ela. No México, é só você ter a carta, fazer todo o processo internacional de vacinação da cachorra para poder sair com o animal. Já no Brasil, ela foi para Curitiba comigo a trabalho pela Latam, eu tive que mandar a carta e esperar a aprovação da empresa em até 48 horas, fiz isso e não tive problema.

A pretinha tem uns 5 anos, comigo ela já completou 4. Quando eu a adotei, o veterinário disse que ela tinha entre 6 a 8 meses. Como eu adotei ela em abril de 2015, ela já completou 5 anos e tem 15 quilos.

Como ela se comporta durante a viagem? Ela sente alguma coisa como enjoo por exemplo?

A Pretinha se comporta muito melhor que qualquer criança. Ela fica sentadinha e é a atração do voo. Ela tira muitas fotos por isso. Ela vai com os lacinhos na cabeça, vai com a roupinha escrito assistance dog e ela já sabe o que tem que fazer e só se levanta se eu for ao banheiro. E é quando as pessoas percebem que tem um cachorro no voo. Muitos se confundem achando que são aqueles cachorros que vão encontrar alguma coisa no avião, de droga, etc., porque ela usa um coletinho vermelho. Ela não faz as necessidades no avião, porque já está acostumada, antes de subir eu a levo para se aliviar e dou pouquinha comida para que não vomite. Sempre levo um pouquinho de água e de ração para ela não ficar com o estomago vazio. Ela não sente enjoo, ela está mais costumada a viajar que algumas pessoas. Ela já foi para Acapulco, Campeche, para o Brasil… Pretinha viaja muito!

Como é a relação da Pretinha com os passageiros?  Teve algum problema com algum passageiro?

Até agora nunca tivemos nenhum problema com passageiros, normalmente ela vai na janela. E o legal é que as pessoas querem fazer carinho, tirar foto porque é bem diferente e ela adora! Ela é uma cachorra dócil, já era assim, foi treinada para obedecer os comandos e ela tira foto com todo mundo.

Fora o avião, é fácil pra você, nas viagens, encontrar lugares para a Pretinha ficar? Hotéis, restaurantes, praias… ou ainda há muitos locais nos quais os pets não são aceitos?

Nós ficamos em Airbanb porque são casas que permitem os animais de estimação e é mais fácil assim. Quanto aos restaurantes, ainda não tive problemas porque eu procuro lugares que aceitem, que tenham uma parte externa. Tive, em Curitiba, um problema com um motorista de Uber que não quis levar a gente. Tem pessoas que soltam mais pelos que a Pretinha, mas muitos não entendem isso. Para evitar qualquer coisa, eu já ando com uma escova ou uma fita para limpar o carro e não ter problema.

Pretinha fantasiada de caveira no Día de Muertos. Foto: arquivo pessoal

O Que a Pretinha mudou na sua vida?

Pretinha modificou minha vida para tudo! Eu não vejo Pretinha sem mim e eu sem Pretinha. Porque ela é bastante apegada a mim. Quando eu viajo ou vou trabalhar, ela fica em casa, mas tem uma espécie de babá. Quando ela chegou em casa ela destruía as coisas, imagina uma cachorra de rua que passou a ficar trancada, mas agora ela tem uma pessoa que passeia com ela três vezes ao dia. Então, é minha filha! Não é um objeto descartável. Tive a oportunidade de sair do México, ir para outros lugares até como Leitor, mas só vou se a Pretinha for. Pretinha me ajudou a ter paciência, nunca imaginei que ela seria minha cachorra de apoio emocional para evitar o estresse do dia a dia. Eu chegava e ela tinha comido uma câmera fotográfica, os trabalhos dos alunos, o sofá, ela comeu o passaporte do meu amigo, ela comeu um tablete, os carregadores, os óculos da minha mãe, mas a ideia é a paciência. Hoje ela já não come mais nada.

Em 2017, no terremoto que aconteceu no México, Pretinha estava em casa e acabou ficando um pouco traumatizada. Quando ela escuta o alarme sísmico, ela fica desesperada e vem atrás de mim para me alertar e dizer vamos sair. Ela já aprendeu que com o alarme, tem que sair do prédio. Eu digo que fizemos um treinamento, mas, na verdade, ela se treinou, ela se adaptou e muitas das coisas que ela faz surgiram naturalmente, claro, houve estímulos para que ela pudesse fazer, mas outras coisas ela foi aprendendo. Realmente é minha verdadeira companheira.   

Pretinha curtindo uma praia. Foto: Arquivo pessoal
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Paloma Chierici

Jornalista, professora e mãe de pet. Ama viajar e a liberdade que isso lhe proporciona. Dá aula de espanhol e português há mais de 1 década. Como jornalista, trabalhou em televisão, em empresas e em revistas.

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