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rio doce Rio Doce. -Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS

Desastre da lama

Governador Valadares enfrentou a terceira pior enchente do Rio Doce nos últimos 40 anos e agora encara o desafio de limpar a cidade.

Por Denise Rodrigues Alves

O rio Doce começou a invadir as casas no domingo dia 09 de janeiro de 2022. O primeiro bairro a ser atingido foi o São Tarcísio. Depois o nível do rio permaneceu subindo e chegou ao máximo de 4,35m, na madrugada do dia 12 de janeiro de 2022.

Cerca de 50 mil pessoas foram afetadas e 16 mil moradores de regiões ribeirinhas ficaram desalojados na cidade.

Dia 22 de janeiro, mais de dez dias após o nível do rio ter começado a baixar, ainda havia muita lama pelas ruas. Segundo a prefeitura, 400 operários e 140 aparelhos de limpeza (caminhões, carro-pipa, retroescavadeira, entre outras máquinas) estão sendo usados para remoção da sujeira e reorganização da cidade. Eu fiz giro pelo bairro Ilha dos Araújos. E eu fiquei impactada com imagens que registrei e que estão no final desta matéria.

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Fotos: Arquivo pessoal
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Eu conversei com uma das moradoras do bairro, a dona de casa Rita Lobo. Ela vive aqui há 18 anos e afirma que a limpeza dos imóveis atingidos pela enchente ficou mais complicada após o desastre da Samarco, em 2015. “Eu já passei por outras enchentes mas a partir do rompimento da barragem de Mariana piorou, não tem nem comparação. A lama parece uma argila, é uma lama pesada, difícil de tirar. Antes ficava lama, mas era em menor quantidade, era tipo uma areia mais rasteira. Agora quando o rio abaixa fica muita lama, na minha garagem ficou mais de um palmo de lama. A gente que já enfrentou outras enchentes percebe a diferença”, comentou ela. O Portal Gama já tratou desse assunto. Clique aqui para ler.

Procurada pelo Portal Gama, a Fundação Renova divulgou o seguinte Posicionamento:

“Os eventos de inundações devem ser avaliados de maneira criteriosa e abrangente, devendo considerar diversos tipos de dados de toda a bacia de contribuição do rio, tais como: intensidade e concentração da chuva considerando a diferença do comportamento das chuvas em toda a bacia; ao longo dos trechos do rio Doce, a dinâmica contínua de deposição e remoção de sedimentos na calha do rio ocorre de maneira natural e de forma evidente,  podendo ser observada em imagens históricas de satélite.

Desde 2016, a ANA (Agência Nacional das Águas) e o CPRM (Serviço Geológico do Brasil) emitiram relatórios, com base em dados registrados em estações fluviométricas localizadas a partir da Usina de Candonga, que demonstram que a deposição de material fino no leito do rio, oriundo do rompimento da barragem de Fundão, não tem o potencial de alterar ou intensificar os níveis de inundação nas regiões que margeiam o rio Doce. Outros monitoramentos e avaliações realizados posteriormente, relacionados a qualidade da água e sedimentos do rio, confirmam este resultado. 

É importante também frisar que o rejeito da barragem de Fundão não possui característica de toxicidade. O processo de beneficiamento de minério de Ferro não envolve modificações na natureza química do minério, o que garante que a composição química e mineralógica dos rejeitos liberados no rompimento são as mesmas das áreas de onde foi extraído. Tanto os rejeitos quanto os solos da região do Quadrilátero Ferrífero são ricos em minerais de ferro, manganês e alumínio. 

Fotos: Arquivo pessoal

Durante as chuvas de janeiro de 2020, foram realizadas coletas em diversos pontos de Governador Valadares para caracterização do material que estava sendo carreado pela enchente. Os resultados das análises físico-químicas não forneceram evidências que pudessem indicar a presença de rejeitos provenientes da barragem de Fundão. Também não foram observadas concentrações de metais superiores em comparação a estudos anteriores ao rompimento. 

A Fundação Renova destaca ainda que vem realizando, desde 2018, diversas amostragens ao longo dos trechos afetados, para caracterização dos impactos decorrentes do rejeito da barragem de Fundão na região compreendida entre os municípios de Rio Doce/MG e Linhares/ES. De forma geral, não foram identificadas evidências de que o rompimento tenha causado alterações na qualidade do solo e sedimentos avaliados.” 

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Fotos: Arquivo pessoal
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Denise Rodrigues Alves

Sou jornalista, advogada e mestranda em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce, no leste de Minas Gerais. Sou natural de Nanuque e moro em Governador Valadares. Gosto de ler e de pesquisar.

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