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canto da rua Foto: Reprodução/ Facebook

Canto da rua

Projeto “Canto da rua emergencial” que oferece suporte a moradores de rua em Belo Horizonte será descontinuado

Por Bárbara Watanabe

Por Tuany Nathany

Desde a chegada da pandemia, o número de pessoas em situação de rua dobrou. A temperatura baixa e a escassez de ofertas de trabalho e o vírus, que torna tudo mais difícil, vêm deixando os moradores de rua em extrema situação de vulnerabilidade e exposição. O projeto “Canto de Rua Emergencial”, criado pelo Pastoral de Rua vem oferecendo atendimento e suporte a essas pessoas desde que a pandemia começou.

“Sem casa para permanecer, sem água e sem alimentação. Ver essa população nessa situação, preocupou a Pastoral. Então, começamos a articular várias organizações e grupos como forma de responder a essa situação, minimizar um pouco a exclusão e exposição”, relata Cristina Bove, membro da equipe da Pastoral Nacional do Povo da Rua.

Cristina diz que essa articulação se iniciou nas ruas e depois se expandiu com o auxílio do Colégio Santo Antônio, quando começaram a distribuir kits de alimentação e higiene. Depois surgiram dois serviços: o diurno que acontece na Serralheria Souza Pinto e o de hospedagem, que abriga pessoas em situação de rua à noite.

A rua toma a Serralheria Souza Pinto

Todo o serviço prestado na Serralheria é com a intenção de garantir mais direitos as pessoas em situação de rua. O grupo presta atendimentos em questões de moradia, trabalho, atendimento psicossocial e, a partir das necessidades das pessoas, dividiram o espaço da serralheria em praças.

A primeira é da acolhida. “Ela é importante, porque na hora que a pessoa chega ela precisa saber o que veio fazer e o que nós estamos oferecendo. Estabelecer esse contato de confiança mútua, uma conversa horizontal, na qual eles também podem se expressar. Na acolhida, há diversos serviços como o da barreira sanitária, entrega de álcool e o cadastro da pessoa para podermos montar um sistema de acolhida. Nós já contabilizamos mais de 9 mil pessoas”, diz Cristina.

Nessa primeira etapa, também oferecem espaço para deixar bagagens e atendimentos emergenciais de saúde. A equipe também promove rodas de conversa sobre como foi o dia das pessoas. Logo depois, passam pela higienização das mãos e vão para a praça de alimentação, onde servem um lanche. “É importante explicar que essa alimentação é oferecida por um grupo de economia solidária, feito pela própria população de rua. O grupo chama-se Sabor do Campo e, a partir das 5 da manhã, se organizam para preparar 1800 lanches que são oferecidos à população de rua”, explica Cristina Bove.

Na serralheria, também há um serviço que chama “Praça da dignidade”, no qual oferecem sanitários, banho e lavagem de roupas. “Não existe a possibilidade adequada de usar os sanitários na rua, então é realmente uma demanda urgente da cidade. Todas as pessoas precisam de sanitário para fazerem suas necessidades fisiológicas. Não podemos negar também a importância de ter um banho digno.” A membro do grupo Pastoral de Rua explica que cada um recebe sua própria toalha e kit higiênico do dia, além de poder lavar suas roupas em máquinas.

Já o atendimento psicossocial oferece serviços como Roda de Mandala, no qual as pessoas pintam e desenham, Rodas de Música, Redução de Danos com temas sobre moradias e específicos para mulheres. “A partir dessa ação, também há o atendimento dos direitos humanos, no qual é feito um plantão permanente com o Ministério Público, Defensoria pública e também o Centro Estadual de Defensoria dos Direitos Humanos, ali eles verificam os entraves políticos que eles têm na vida para poder melhorar e atender as demandas que têm”, completa Cristina.

A membro da Pastoral também fala da importância de ter um espaço físico para realizar esse tipo de suporte. Ela ressalta que as pessoas em situação de rua acabam criando uma rotina, e sabem que de domingo a domingo, a partir das oito horas da manhã, podem ir a um local para serem acolhidos com segurança.

Contudo, a iniciativa, que atende por volta de 150 pessoas por dia, será descontinuada no final desse mês. Acontece que, apesar de essencial, a iniciativa surgiu como uma ação emergencial para garantir o atendimento e cuidado dessa população apenas no período de pandemia na cidade.

Segundo Cristina, na pandemia não se tinha resposta para a população em situação de rua, já que o atendimento era muito limitado e não atendia a todos que necessitavam. “Porém, também entendemos que esse serviço existia de uma forma emergencial e que, agora, a Prefeitura precisa pensar em uma política pública que responda a essa demanda”, destaca. “É uma demanda reprimida que precisa ser feita levando todos os contextos em conta, de uma forma permanente”, completa Bove.

Atendimento integral

Cristina Bove ressalta a importância de oferecer esse tipo de atendimento de forma completa. “A população de rua tem muitas demandas. Não ter casa, não ter moradia faz com que sua vida, saúde e sua história fiquem comprometidas e fragilizadas. Com isso, precisamos responder de forma integral a essa demanda, uma vez que somos um todo que precisa ser cuidado e compreendido”.

A membro da Pastoral de Rua, diz que a equipe tinha um lema que era “Todo mundo cuidando de todo mundo”, e que trouxe a todos que estavam participando, essa atenção e cuidado, além de proporcionar aos moradores de rua uma ressignificação na vida deles, no sentido de que eram importantes e compromisso com o processo. “Foi uma experiência muito rica, muito humana e integral na qual buscamos resgatar a esperança. Porque a população em situação de rua não tem expectativa, a rua não te permite ter sonhos, então, o importante é a pessoa poder voltar a sonhar, voltar a querer desejar algo”, destaca.

“Também acho importante dizer que na verdade, a população em geral não conhece a realidade da população de rua. Pensam que estão na rua porque optaram por aquela situação, e não é verdade. A rua é a única resposta a vida que ela tem, então precisamos dar alternativas públicas que realmente ajude a mudar essa situação de desespero. Providenciando moradia, trabalho, saúde, políticas públicas e efetivas que possibilitem melhorar a qualidade de vida e superar essa situação”, finaliza Cristina Bove.

 

*A matéria foi desenvolvida pela jornalista Tuany Nathany, que entrevistou as fontes e apurou as informações, juntamente com a estudante de jornalismo Bárbara Watanabe, que contribuiu escrevendo a matéria.

Bárbara Watanabe Oi!! Meu nome é Bárbara Sayuri Watanabe. Sou estudante de jornalismo, estagiária do Portal Gama e fotógrafa (@barbarasayurifotografia). Tenho uma paixão enorme em consumir e criar arte!
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Tuany Nathany

Alma curiosa que busca entender os ‘por quês’ e ‘comos’ da vida. Jornalista por profissão e pesquisadora de coração, sou especializada em jornalismo em ambientes digitais e em comunicação pública da ciência. Na pesquisa, e na vida, meus principais temas de interesse são gênero, mulheres na ciência, redes sociais e divulgação de ciência para crianças.

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