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Lideranças nas favelas

Entenda como funciona a dinâmica que dá origem aos líderes de favela e quais são seus impactos na vida da comunidade

Por Tuany Nathany

Nas últimas décadas, tornou-se comum a existência de favelas nas grandes cidades. No mundo, cerca de um bilhão de pessoas vivem em periferias, cercados de estereótipos e a margem da sociedade. No Brasil, em 2010, 11,4 milhões de brasileiros viviam em comunidades.

Nesse sentindo, a partir da necessidade dessas pessoas transformarem e resignificarem esse ambiente, surgiram os líderes comunitários, moradores que são procurados por outros moradores para lidar com questões como habitação, educação e meio ambiente. Eles são tidos como “organizadores informais” e tentam achar soluções para resolver problemas sociais que são negligenciados pelo setor público.

Para entender melhor como funciona essa dinâmica, pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EAESP), desenvolveu uma pesquisa em três favelas paulistas. O estudo identificou que esses líderes acabam sendo uma resposta ao descaso e abandono do estado frente as necessidades específicas dessa população. Confira os resultados na integra aqui (em inglês).

Segundo Renato Souza, um dos autores da pesquisa, o que mais chamou atenção foi o impacto de transformação gerado por essas lideranças. O pesquisador ressalta, em entrevista à Agência Bori, que ações coletivas – desenvolvidas por essas lideranças – é a solução prática que está conseguindo reduzir a vulnerabilidade dos moradores de favela.

Liderança Coletiva

Outra característica bacana desse tipo de organização é o caráter coletivo e plural. Acontece que por ser informal os líderes de favela não estão ligados a posições formais, mas a um complexo conjuntos de relações sociais, e representações culturais, que constrói a vida nas favelas. Com isso, a liderança acaba sendo coletiva, formada não por uma pessoa isolada, mas a partir da interação e colaboração entre moradores.

Porém, para que isso aconteça, a comunidade precisa ter um propósito compartilhado. Infelizmente, esse sentimento, normalmente, nasce da percepção comum de não pertencimento da sociedade e do entendimento que a periferia é um ambiente invisível para os gestores públicos.

Pontes de socorro

Qual o papel dos líderes então? Como há esse distanciamento, essa população se sente a margem da sociedade, eles precisam que alguém seja esse ponto de encontro, que faça a ponte entre a favela e a ‘cidade’.

Assim como Caronte – figura da mitologia grega que atravessa as almas para o mundo dos mortos (saiba mais aqui) – os líderes são uma ponte, que atravessa, no caso demandas e realidades, de um ‘mundo’ para o outro.

Gerando transformação

Saindo da capital paulista, em Belo Horizonte, Minas Gerais, há mais de 550 mil pessoas vivendo em 223 vilas e favelas, informação da Central Única das Favelas (Cufa). A Vila Santana do Cafezal, no Aglomerado da Serra, é uma dessas localidades. É lá, também, que vive a líder comunitária Cristiane Pereira, mais conhecida como Kika, que trabalha diariamente contra a desigualdade e o preconceito.

O maior desejo de Kika é que a favela deixe as páginas policiais e passe a ser vista por seu talento na música e arte. Segundo a líder comunitária, a favela é associada à criminalidade, porém as pessoas de fora não entendem o que ocorre lá dentro.

Nesse sentindo, ela e sua equipe buscam mostrar que a favela é muito mais. Para isso, eles fizeram o Circuito Serra da Quebrada, a ideia era mapear grupos dedicados à arte e estimular novas criações. Esforço que contribuiu para a fundação, em 2017, do Observatório do Funk, entidade responsável pela legalização do maior baile funk em favela de Minas Gerais.

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Logotipo do Circuito Serra da Quebrada. – Foto: Reprodução/ Facebook

Com a pandemia, as ações do grupo tiveram de focar em necessidades de ordem mais prática, como distribuição de cesta básica. Porém, atualmente a meta do grupo é encaixar novamente os moradores da favela em novos trabalhos, já que muitos perderem seus empregos na pandemia. Saiba mais sobre o projeto aqui.

Com informações da Agência Bori

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Tuany Nathany

Alma curiosa que busca entender os ‘por quês’ e ‘comos’ da vida. Jornalista por profissão e pesquisadora de coração, sou especializada em jornalismo em ambientes digitais e em comunicação pública da ciência. Na pesquisa, e na vida, meus principais temas de interesse são gênero, mulheres na ciência, redes sociais e divulgação de ciência para crianças.

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