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100 anos de Insulina

Para comemorar a descoberta da insulina, a jornalista Letícia Martins lança seu primeiro livro-reportagem com depoimentos de diabéticos e profissionais da saúde

Por Ana Horta

Eu sou diabética há quase 20 anos. Descobri a doença aos 18/19 anos, no primeiro ano da faculdade de jornalismo. Não foi uma surpresa, porque todos os sintomas que senti (sede excessiva, muita vontade de urinar, fome, perda de peso) já tinha sido visto por mim, alguns anos antes, pelo meu irmão (também diabético tipo 1, algo raro de se ver: dois irmãos, diabéticos tipo 1).

Eu acho que não tive muito tempo para digerir o que é ser diabético naquela época e só estou podendo refletir, em terapia, sobre isso, agora, então, é algo bem recente. A revolta está podendo ser colocada e abraçada por mim mesma só agora, por isso, talvez eu não estaria na lista de pessoas entrevistadas da Letícia por não ter uma “visão positiva do tratamento”, mas é por isso que o livro dela me atrai tanto.

Quero saber como esses colegas diabéticos convivem bem com as agulhadas, se for como eu, quatro vezes ao dia, e também sobre os avanços da medicina em relação a isso. Você também está curioso? Então, veja alguns spoilers na entrevista abaixo!

Quem é Letícia Martins? Você é diabética?

Sou jornalista e empreendedora, apaixonada pelas áreas da saúde e inovação. Em 2015, fundei a Momento Diabetes, com o propósito de gerar conteúdo de qualidade para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Não tenho diabetes, mas como grande parte da população, conheço familiares e amigos com a condição e acredito que a informação de qualidade pode mudar a vida de alguém para muito melhor.

O projeto Momento Diabetes começou com uma revista impressa, que logo ganhou a versão digital, site e redes sociais e hoje se estende para uma Jornada Online de Educação em Diabetes.

Além disso, sou palestrante nos eventos do Ciclo MPE, projeto de capacitação para micros, pequenos e médios empreendedores da Câmara Brasileira da Economia Digital, instituição onde atuo há 10 anos.

Recentemente, realizei um antigo sonho: ser escritora. O livro 100 Anos de Insulina é o primeiro de muitos que certamente e estou muito feliz por isso! Nascida na cidade de Monteiro Lobato, o mais importante escritor brasileiro da literatura infantojuvenil, já me sinto motivada para escrever outros livros (o segundo já está em produção).

Como e quando surgiu a ideia do livro?

Em 2012, quando iniciei na área do diabetes, escrevi uma matéria chamada “Nove décadas de insulina e os avanços do tratamento do diabetes”. Acho que a sementinha foi plantada ali. Depois disso, entrevistei diversas pessoas com diabetes, familiares, cuidadores, amigos e profissionais de saúde. A sementinha foi sendo regada. Ao chegar em 2020, às vésperas do centenário da descoberta da insulina, a sementinha quis florescer. O primeiro experimento com insulina em laboratório que obteve êxito aconteceu em julho de 1921, na Universidade de Toronto, no Canadá. Este acontecimento foi um verdadeiro marco na história da medicina e da humanidade, afinal, a descoberta da insulina salvou a vida de milhões de pessoas no mundo todo e continua salvando. Por esta razão, achei que seria importante comemorar o centenário deste feito com um livro em estilo reportagem – algo que amo fazer. Além de comemorar tal data importante, o livro tem como objetivo desmistificar a ideia de que insulina é um castigo ou que faz parte do estágio final do tratamento.

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Mas a pandemia atrapalhou um pouco os planos e só consegui iniciar o projeto em janeiro de 2021, quando recebi a aprovação do patrocínio da Novo Nordisk.

A partir daí, foram sete meses intensos de trabalho para definir os personagens e fontes médicas, agendar as entrevistas e realizá-las, escrever os textos, apurar as informações, editar, fotografar, revisar e diagramar. Sem falar na preparação do evento de lançamento e em todo o processo de divulgação, pois fiz questão de coordenar tudo de perto.

Embora eu tenha tido 7 meses para produzir o livro, ele já estava sendo gerado dentro de mim e me preparei durante 9 anos para escrever sobre diabetes, tendo feito cursos na área. Podemos dizer, então, que este livro foi produzido durante 9 anos. 

O livro conta sobre os avanços da insulina, da evolução dos aparelhos de medir a glicemia e também de aplicar insulina por meio do relato de diversas pessoas. Como você chegou até elas? Conte como foi esse processo.

Exatamente. O livro 100 Anos de Insulina traz a história de 13 pessoas com diabetes, além de entrevistas com 11 especialistas da área da saúde com larga experiência em diabetes. Nesses quase dez anos escrevendo sobre diabetes, entrevistei inúmeras pessoas, portanto, já tinha uma vasta lista de candidatos para ilustrar o livro. Isso foi um ponto positivo e um desafio, pois escolher apenas 13 em uma coletânea tão vasta de histórias lindas, foi exigente.

Para isso, estruturei os capítulos, definindo os temas para cada um deles (diagnóstico, medo/preconceito, tecnologias, diabulimia, pesquisas, direito à saúde, etc) e puxei pela memória as histórias que eu já conhecia, além de pedir indicação para algumas fontes sobre outros possíveis entrevistados. As experiências reais dos entrevistados serviram de fio condutor para os capítulos e fui recheando-os com recortes da História com agá maiúsculo e com informações trazidas pelos profissionais de saúde. Por isso, é um livro-reportagem com caráter educativo.

Ou seja, os entrevistados foram escolhidos com base na proposta de cada capítulo e em suas histórias. Duas características importantes eram fazer ou ter feito uso de insulina (obviamente) e ter uma visão positiva sobre o tratamento. Você vai ver que, no início, alguns pacientes negavam o diabetes, tinham pavor da insulina e até vergonha da condição. Mas o elemento em comum entre todos é a superação. Foi isto que eu quis mostrar. 

São 14 capítulos com temáticas variadas e importantes, como aceitação do diagnóstico, direito ao tratamento no sistema público de saúde, evolução das insulinas e da tecnologia, família, entre outros.

Alguns entrevistados já são conhecidos na Internet, por terem perfis nas redes sociais e/ou participarem de eventos com mais frequência. Enquanto outros são anônimos (ou eram, até então!). Mas todos, sem exceção, são especiais para mim. Fiz questão de entrevistá-los e me emocionei em cada conversa. Assim, tive a certeza de que eram boas histórias, pois tocaram minha alma.

Quem quiser conhecer um pouco sobre cada um dos entrevistados, pode ver dois vídeos que disponibilizamos no Youtube da Momento Diabetes, no qual eles mesmos relatam como foi participar:

https://www.youtube.com/watch?v=hnveidCf2xQ&t=1s

https://www.youtube.com/watch?v=wempS-e0gG8

Os profissionais de saúde também estão retratados no livro. Quais foram eles? Por que os escolheu?

Entrevistei 12 profissionais de saúde, que dedicam suas vidas a cuidar de pessoas com diabetes e pesquisar novas terapias para o tratamento do diabetes. Além de serem nomes de referência na área do diabetes no Brasil, todos são grandes parceiros da Momento Diabetes e a maioria faz parte da minha trajetória profissional, como o endocrinologista pediátrico Dr. Mauro Scharf, fundador e diretor do Centro de Diabetes Curitiba, que foi o primeiro médico que entrevistei na vida sobre diabetes e muito gentilmente revisou a parte técnica do livro. Destaco ainda o Dr. Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto, autor do livro O Futuro do Diabete, que li em 2012 e serviu de base para minha formação. Além de me motivar a escrever meu próprio livro, ele foi fonte e prefaciador.

Alguns somam à experiência médica o próprio diagnóstico de diabetes tipo 1. É o caso da endocrinologista Dra. Karla Melo, PhD em endocrinologia e membro da equipe de diabetes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), onde fundou o Núcleo de Excelência em Atendimento ao Diabético; do médico mineiro Dr. Levimar Araújo, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes para o biênio 2022-2023 e do Dr. Wellington Santana, professor da Disciplina de Endocrinologia na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e tesoureiro adjunto da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM Nacional). E há ainda uma mãe-pâncreas, a psicóloga Elcilene Souza, que tem uma filha com diabetes tipo 1.

Entrevistei ainda os endocrinologistas Dra. Cláudia Pieper, Dra. Denise Reis Franco, Dra. Patrícia Peixoto, Dra. Renata Noronha e Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz e Dr. Thiago Hirose, que contribuíram com conhecimento e muita sensibilidade.

No site https://www.100anosdeinsulina.com.br/ tem a lista com todos os entrevistados.

Existe algo de novo no que se refere à insulina?

Com certeza! Nos capítulos 10 (Tipo 2 também usa insulina e não é o fim da vida) e 13 (O que esperar do futuro), falamos sobre as insulinas que estão em desenvolvimento, como um análogo de insulina basal de ação prolongada que poderá ser aplicado uma vez por semana e não diariamente. Isso certamente aumentará a adesão dos pacientes à terapia e facilitará o tratamento. Além disso, há a expectativa para a insulina inteligente, que agiria somente quando os níveis de açúcar no sangue estiverem altos. Mas para ficar por dentro das novidades sobre o tratamento do diabetes é preciso ler o livro inteiro, pois em todos os capítulos abordamos um pouco dessa evolução. Logo no primeiro capítulo, por exemplo, já comentamos sobre a insulina inalada, que começou a ser usada no Brasil no início de 2021.

No que se refere aos aparelhos de medir glicemia, o sensor de glicose Libre seria o que nós teríamos de mais novo?

O sensor de glicose Libre chegou ao Brasil em 2016 (a revista Momento Diabetes, inclusive, trouxe uma reportagem sobre isso) e sem dúvida é uma tecnologia revolucionária no monitoramento da glicemia, por dispensar as picadas na ponta do dedo. De lá para cá, a empresa já fez algumas atualizações no sensor, possibilitando, por exemplo, a comunicação dele com smartphone. Os estudos também avançaram e hoje ele pode ser usado por grávidas também.

Falando em aparelhos tecnológicos, não podemos deixar de citar as bombas de infusão de insulina (falamos sobre ela em diversos capítulos). Há modelos no Brasil que vêm com sensores de glicose e ajudam muito no controle glicêmico.

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O Dr. Carlos Eduardo, pesquisador da USP- Ribeirão Preto, disse que nunca havia visto um modelo de livro sobre diabetes como o seu, ou seja, menos sisudo e mais humano. Essa foi exatamente a intenção. Que o livro fosse para todos?

Exatamente! Busquei escrever o livro com uma linguagem leve, simples, que se assemelhasse a uma conversa entre amigos. Aliás, em algumas partes, reproduzi as frases dos próprios entrevistados e uma sequência de diálogos. Acredito que este estilo de texto nos aproxima, enquanto autores, dos leitores. Tenho recebido feedbacks muito positivos de leitores que não têm diabetes, mas começaram a ler o livro e terminaram em um dia. Isso é muito gratificante, pois indica que a leitura é prazerosa. Como jornalista da área da saúde, acredito que meu papel seja o de traduzir a ciência para a linguagem mais próxima do meu leitor. A meu ver, isso é educação e informação de qualidade.

De 100 anos para cá, no que se refere apenas à insulina, qual foi a maior evolução que o medicamento teve na sua opinião?

Olha, se você fizer esta pergunta para os entrevistados do livro, provavelmente ouvirá respostas diferentes de cada um. Isso porque o tratamento do diabetes é individualizado e cada paciente sente mais ou menos algum aspecto. Não tenho diabetes e, por isso, minha resposta vai ser com base na interpretação que faço das entrevistas que fiz. Acredito que após a descoberta da insulina, outro grande avanço do tratamento foi o desenvolvimento da insulina humana, desenvolvida em laboratório a partir da tecnologia de DNA recombinante, diferentemente das primeiras insulinas que eram de origem animal, extraídas dos pâncreas bois e porcos. Com o avanço da engenharia genética, diferentes tipos de insulina foram surgindo no mercado, que variam conforme o início da ação, o tempo de ação no organismo e o pico da ação. Com isso, os pacientes ganharam mais flexibilidade e liberdade no tratamento, pois podem aplicar a insulina cerca de 5 minutos antes de comer. No livro, a Dra. Karla Melo explica exatamente isso: “A evolução das insulinas trouxe flexibilidade às pessoas com diabetes. Imagine você ser obrigado a fazer refeições porque a sua insulina basal vai entrar em pico de ação, não pode atrasar uma refeição ou ter que aplicar insulina cerca de 30 ou 40 minutos antes de uma refeição? Isso não é factível com a nossa dinâmica de vida”, exemplifica a endocrinologista.

Mas eu gostaria de destacar que, em paralelo à evolução da insulina, houve muitos avanços também nos acessórios de aplicação. A caneta de insulina, por exemplo. É mais acessível que uma tecnologia moderna como a bomba de insulina, e oferece mais segurança que uma seringa, além de ser mais confortável. Durante as entrevistas, ouvi muitos relatos de pacientes que disseram como é importante ter uma insulina de qualidade, moderna e acessível, mas como é fundamental também poder aplicar sem dor, com menor risco de errar na dose e de forma mais confortável. No final das contas, tudo isso importa no tratamento diário de uma doença crônica.

Será que algo novo nos espera? Algo como aplicação de apenas uma dosagem de insulina no dia para o tratamento da diabetes tipo 1?

Sem dúvida, algo novo nos espera, pois os pesquisadores não param de procurar pela cura do diabetes e, como comentamos na resposta 6, há vários estudos em andamento para desenvolver novas formas de administração da insulina e novas terapias também. No entanto, tão importante quanto desenvolver terapias e medicamentos inéditos, é fundamental garantir o acesso aos tratamentos existentes para todos os pacientes, conforme previsto na Constituição Brasileira e na Lei Federal da Lei nº 11.347, de 2006, que padronizou o fornecimento dos itens para tratar o diabetes em todo o Brasil.

Além disso, como bem citou a mãe do garotinho Nícolas, que entrevistei no capítulo 12 do livro 100 Anos de Insulina, precisamos construir uma sociedade mais empática, que acolha as crianças com diabetes e não olhe com dó ou preconceito para pessoas com condições de saúde específica, como o diabetes. Quem ler o livro 100 Anos de Insulina vai compreender um pouco sobre esse desafio e se emocionar com os relatos reais.

O que significou para você escrever esse livro?

Uma honra, uma verdadeira alegria e uma sensação real de que preciso escrever ainda mais para dar voz a outras pessoas com diabetes e tantas outras condições de saúde que vivem, muitas vezes, com medo, com dúvidas, cheias de tabu sobre o tratamento.

Já faz 100 anos que ninguém precisa morrer por ter diabetes, mas infelizmente há muitas pessoas vivendo mal com a condição. Precisamos falar mais sobre o assunto, conscientizar quem tem diabetes de que é possível controlar e viver bem (medicamentos ótimos já existem!) e, quem não tem, para fazer a prevenção.

Como jornalista, sinto-me honrada de poder publicar um livro em comemoração ao centenário da insulina, feito tão importante para a humanidade que rendeu aos pesquisadores o Prêmio Nobel de Medicina. Um dos leitores do livro me disse: “Este é um livro histórico, porque daqui a 100 anos, nós já teremos partido, mas as nossas experiências e desafios poderão ser lidos e conhecidos por outras pessoas, quem sabe já curadas do diabetes.”

Como jornalista, também me sinto feliz de entregar aos leitores um livro educativo, que ensina sobre o tratamento do diabetes, conectando o leitor a alguns dos maiores especialistas da área em questão. Essa conexão pode salvar vidas.

Onde é possível comprá-lo?

O livro está sendo vendido na loja virtual da Momento Diabetes pelo valor de R$ 39,90 + frete (edição impressa). O link direto é este:

https://www.momentodiabetes.com.br/produto/livro-100-anos-de-insulina-edicao-impressa/

Também criamos um hotsite e um Instagram para comemorar os 100 Anos de Insulina. Os interessados também podem comprar o livro por lá:

www.100anosdeinsulina.com.br

www.instagram.com/100anosdeinsulina 

>>>>> Gostaria de finalizar dizendo que o livro foi publicado pela Momento Saúde Editora, com o apoio da Momento Diabetes e o patrocínio exclusivo da Novo Nordisk. O patrocínio recebido nos possibilitou produzir o livro ainda no ano em quem comemoramos o centenário da descoberta da insulina. Por esta razão, estamos DOANDO toda a verba que será recebida com a venda do livro até dezembro de 2021 para um projeto que visa incentivar a atividade física entre as pessoas com diabetes. Este projeto se chama CORRENDO PELO DIABETES e foi indicado pelo público no site dos 100 Anos de Insulina.

Foto

Ana Horta

Jornalista especializada em arquitetura e decoração e pós-graduada em MKT. Há 12 anos é proprietária da Mão Dupla Comunicação, única agência em Minas especializada em arquitetura,decoração, construção civil e paisagismo. É também uma das idealizadoras do Décor Solidário, projeto social, sem fins lucrativos, que visa revitalizar instituições carentes por meio da decoração.

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  • Confira a entrevista da jornalista Letícia Martins sobre o livro "100 anos de Insulina" - Momento Diabetes

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